São Paulo, segunda-feira, 12 de maio de 1997
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Carros só chegaram à cidade nos anos 50

FLAVIO CASTELLOTTI
DA AGÊNCIA FOLHA, EM PARATI

Há 400 anos, uma expedição comandada por Martim Correia de Sá desembarcou na região leste de Parati, em uma praia que leva o nome do explorador português.
Além de buscar minérios preciosos, a expedição -composta por 700 europeus e 2.000 índios- tencionava aprisionar índios guaianás, que dominavam a região.
Martim de Sá não sabia, porém, que ali surgiria um entreposto comercial que se tornaria o segundo porto mais importante do país em meados do século 18.
Para comemorar os 400 anos da cidade, a prefeitura montou uma exposição no quartel da fortaleza de Patitiba, prédio do início do século 18 que funcionou como cadeia pública até 1980.
A exposição, que reúne documentos e peças significativas da história da cidade, deve tornar-se acervo permanente de um museu que será aberto no mesmo prédio.
Embora habitada por colonizadores desde a primeira metade do século 17, foi apenas no século seguinte, com a descoberta de ouro no sul de Minas Gerais, que Parati despontou no cenário nacional.
Isso graças ao Caminho do Ouro da Piedade, a famosa Trilha do Ouro, uma senda supostamente aberta pelos guaianás, que partia de Parati, passava por Guaratinguetá, freguesia da Piedade (atual Lorena), garganta do Embu e chegava ao sul de Minas.
O caminho tornou-se a principal via de escoamento do ouro produzido em Minas Gerais. Por ele passavam também os escravos e artigos europeus importados pela aristocracia colonial.
Com o declínio das exportações de ouro, em meados do século 18, a cidade perdeu importância.
Entretanto, a partir do século 19, Parati reviveu os dias de opulência do período colonial, graças à expansão do café no vale do Paraíba.
A glória foi efêmera. A abertura da estrada de ferro entre São Paulo e Rio, em 1870, aviltou o antigo caminho das mulas, afetando toda a economia da cidade.
A abolição da escravatura, em 1888, foi o golpe definitivo para Parati. De seus 16 mil habitantes, em 1851, restaram apenas 600 velhos, mulheres e crianças no final do século passado.
Parati foi condenada ao isolamento. Enquanto abriam-se estradas pelo resto do país, a Parati chegava-se apenas de barco, procedente de Angra dos Reis.
Foi apenas em 1950 que o primeiro carro chegou à cidade pela estrada Parati-Cunha, que só tinha movimento quando não chovia.
Mas o isolamento de Parati preservou a arquitetura original da cidade e os usos e costumes de seus habitantes. Os dois fatores, somados à beleza natural da região e à abertura da Rio-Santos em 1973, são responsáveis pelo terceiro ciclo econômico da cidade: o turismo.

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