São Paulo, terça-feira, 13 de maio de 1997
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EUA querem atrair Argentina para o Nafta

CLÓVIS ROSSI
ENVIADO ESPECIAL AO CHILE

O governo norte-americano pretende demolir o Mercosul. Para isso, vai pressionar a Argentina para que adira ao Nafta, o conglomerado formado por EUA, Canadá e México.
A informação é de Rodolfo Terragno, presidente nacional da UCR (União Cívica Radical), o mais tradicional partido argentino, com mais de cem anos e que governou o país antes do atual presidente, Carlos Menem, entre 83 e 89.
Terragno trouxe a informação de um encontro promovido em Atlanta (Sul dos EUA) pela fundação criada pelo ex-presidente norte-americano Jimmy Carter.
O relato do que Terragno chama de "embate contra o Mercosul" foi feito aos representantes da esquerda e centro-esquerda latino-americanos reunidos até domingo no Chile.
Os norte-americanos nunca esconderam sua pretensão de construir a Alca (Área de Livre Comércio das Américas), que estará em debate a partir de hoje em Belo Horizonte, por meio da incorporação de cada país latino-americano ao Nafta.
O Chile negocia sua adesão há algum tempo, sem êxito até agora.
A novidade é essa intenção de chamar, depois do Chile, a Argentina, o principal sócio do Brasil no Mercosul (os outros são Paraguai e Uruguai).
Se existe, colide de frente com a estratégia brasileira, que é construir a Alca por meio do que no jargão diplomático se chama de "building blocks" (literalmente, construindo blocos).
Na prática, significa negociar a Alca com cada um dos blocos já existentes (Nafta, Mercosul, Pacto Andino etc.), em vez de fazê-lo país a país.
Terragno diz que a pressão norte-americana "não encontrou eco" junto ao governo argentino.
Risco de isolamento
Mas um especialista brasileiro, José Augusto Coelho Fernandes, tem temor muito semelhante ao manifestado por Terragno.
Fernandes, diretor-executivo da CNI (Confederação Nacional da Indústria), acha que, se o Chile acabar sendo admitido no Nafta, haverá "forte excitação" na Argentina, pela rivalidade histórica entre os dois países.
Com isso, prossegue o raciocínio, há o risco de que se "quebre a solidariedade interna no Mercosul", que até aqui manteve posições conjuntas em relação à Alca.
É por isso que o diretor da CNI defende a tese de que o Mercosul deve aproveitar a onda em torno da negociação para a Alca para consolidar uma agenda própria, que passe pelo seu aprofundamento, numa ponta, e sua expansão, na outra.
Aprofundamento significa uma coordenação de políticas, especialmente econômicas, que vá muito além do comércio. No limite, tal aprofundamento significaria uma moeda comum para os quatro países do bloco.
Expansão quer dizer atrair os demais países da América do Sul para a criação da Alcsa (Área de Livre Comércio Sul-Americana), projeto prioritário, aliás, para a diplomacia brasileira.

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