São Paulo, terça-feira, 13 de maio de 1997
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Os novos portos para seu investimento

LUÍS PAULO ROSENBERG

Desde que os juros começaram a cair, o investidor brasileiro vê-se às voltas com uma preocupação que esteve distante do seu cotidiano nos últimos seis anos: onde aplicar sua disponibilidade?
De fato, como a política monetária desses anos tem resultado na prática dos juros reais mais elevados do mundo, bastava ao investidor ficar em CDB ou em fundos de renda fixa para abiscoitar rendimentos superiores aos que sofisticados aplicadores europeus conseguiam em seus mercados locais. A própria caderneta de poupança constituiu uma opção razoável.
Recentemente, entretanto, está parando de chover maná sobre os que se sentam languidamente sob o sol da renda fixa. E, como a trajetória, inexorável, dos juros é para baixo, a cada dia as opções pela posição de agiota vão-se tornando mais atraentes.
Ações, por exemplo. Só neste ano, valorizaram-se quase 50%. Além do excelente desempenho das empresas cotadas nas Bolsas, contribuiu para essa subida espetacular a credibilidade crescente do Brasil nos mercados internacionais, o avanço da privatização e a previsibilidade política propiciada pelo avanço da tese da reeleição: nada mais tranquilizador para o fugidio aplicador em ativos de risco do que saber que os lucros serão bons, haverá mudanças no sentido da modernização e o perfil do próximo presidente pode não ser uma Brastemp, mas é conhecido.
Claro, como em toda aplicação de risco (por isso são chamadas de renda variável), o céu de brigadeiro pode reverter em tormenta em questão de dias. Resultados assustadores na balança comercial brasileira, rejeição da reforma administrativa, alta exagerada dos juros norte-americanos ou enfarte de Yeltsin são algumas das péssimas idéias que podem tirar o charme das Bolsas de ações brasileiras. Mas que a tendência é de sustentação da alta, disso ninguém duvide.
Já ouro, dólar e imóveis são opções que só têm imposto perdas aos seus detentores. Os dois primeiros, refúgios dos covardes, não sobrevivem em tempos de avanços em direção a um país mais racional. E os imóveis, por serem aleijados pela ausência de um financiamento de longo prazo a juros aceitáveis.
Será, portanto, correta, a orientação de colocar parte em renda fixa e parte em ações, estas, em maior proporção à medida que o investidor for mais ousado ou tiver um horizonte de investimento mais longo?
Quase. Há uma nova opção de investimento que deve ser também incluída na sua carteira: o fundo de derivativos.
Inexistente até três anos atrás, essa opção de investimento vai-se popularizando e tem-se revelado a mais rentável de todas.
Os fundos de derivativos investem nos mercados futuros de ações, de juros, de câmbio e de títulos brasileiros da dívida externa. Ou seja, podem tomar posições superiores ao seu patrimônio, comprando o equivalente em ações a, digamos, uma vez e meia os recursos aplicados no fundo. Podem também ficar vendidos num ativo: se seus gestores acreditam que a desvalorização cambial até dezembro vai ser inferior ao que o mercado está projetando, há mecanismos para vender dólares de dezembro hoje e "recomprá-los" mais barato no Natal, se a aposta tiver sido correta.
Qual a vantagem desse tipo de fundo?
Em primeiro lugar, permite ao investidor frequentar todos os mercados, buscando ganhos oportunísticos continuamente. Basta que haja oscilação das cotações para que um bom administrador de derivativos possa gerar ganhos para seus fundos, seja em ações, em dólar, seja até mesmo em variações nas taxas de juros.
Em segundo lugar, oferece uma defesa contra perdas em suas outras aplicações e por isso é também conhecido como fundo "hedge" (de proteção). Realmente, um fundo de ações sabiamente administrado terá dezenas de empresas em sua carteira, amealhadas em paciente trabalho de pesquisa e prospecção. Não se deve esperar, portanto, do administrador desse fundo que, ao visualizar uma ameaça de queda de alguns dias, ele vá vender sua posição. Se o aplicador nesse fundo tiver também quotas de um fundo de derivativos, quando a Bolsa cair, ele sofrerá perdas patrimoniais no fundo de ações; mas o ganho de uma posição vendida em ações no fundo de derivativos poderá compensar tal perda, "hedgeando" sua aplicação em Bolsa.
Finalmente, nunca é hora de sair de um bom fundo de derivativos. Como ele não tem compromisso nem com o ativo nem com a ponta, de um dia para o outro o fundo pode sair de ações e ir para juros, ou passar de comprado a vendido em dólar. Ao contrário de um fundo de ações, que sempre cai com a Bolsa, o administrador de um fundo de derivativos está sempre procurando sair e entrar no mercado certo.
Se você estiver investindo apenas em renda fixa, parabéns. O Chico Lopes ainda está esbanjando recursos da União para que sua remuneração seja satisfatória e não cause aflições.
Mas, se você quiser estar preparado para tempos de juros mais condizentes com o que vai pelo mundo, é melhor examinar com atenção as oportunidades que estão passando à sua frente.

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