São Paulo, terça-feira, 13 de maio de 1997
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Itaú mostra o pioneirismo de Medeiros

ANA MARIA GUARIGLIA
FREE-LANCE PARA A FOLHA

O Instituto Cultural Itaú inaugura amanhã uma mostra, com parte do acervo de José Medeiros, considerado o pioneiro do fotojornalismo contemporâneo.
A coleção faz parte das exposições do 3º Mês Internacional da Fotografia, organizado pelo NaFoto, e homenageia o repórter, que trabalhou na revista "O Cruzeiro" entre 1946-62.
Nascido no Piauí, Medeiros (1921-1990) produziu uma documentação intensa, abordando temas sociais e políticos e registrando personalidades, negros, índios e situações do cotidiano.
Esse universo multifacetado foi criado a partir das reformulações jornalísticas no pós-guerra.
Anteriormente, a fotografia era usada como mera ilustração dos textos. Com seus cliques, Medeiros entusiasmou os editores, ganhou espaço e passou a disputar a primazia no relato dos fatos.
Rubens Fernandes Jr., 46, curador da mostra, escolheu 45 fotos do acervo do autor, que pertence ao Museu de Arte Moderna do Rio.
Em entrevista à Folha, Fernandes falou sobre o evento, evidenciando "o olhar provocativo do fotógrafo, comprometido com a realidade brasileira".
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Folha - Qual é a intenção de fazer uma mostra sobre Medeiros?
Rubens Fernandes Jr. - Ela faz parte do projeto "Fotografia", do Instituto Cultural Itaú. Sua obra foi escolhida por estar sintonizada com as tendências fotográficas dos anos 50, que desencadearam a fotografia contemporânea.
Outro fato marcante é sua atuação no "O Cruzeiro", uma das revistas mais importantes do país, que chegou a ter uma tiragem semanal de 800 mil exemplares. Fato bastante significativo para a época.
Folha - Medeiros estava ligado ao movimento de vanguarda internacional da foto reportagem, liderado pelos norte-americanos Eugene Smith e Robert Capa?
Fernandes - Sim. Ele assinava todas as revistas de fotografia e lia sempre "Life" e "Paris Match".
Medeiros se comprometeu com uma visão realista e mais documental da condição humana, seguindo os mesmos princípios de André Kertész e Cartier-Bresson.
Por outro lado, também revolucionou as técnicas fotográficas. Usava uma câmera Leica 35 mm, que substituiu os formatos quadrados das máquinas 6 X 6 cm. Mas "O Cruzeiro" estava acostumado com esse formato, e para satisfazer o editor, ele ampliava as fotos no formato exigido.
Folha - Como a exposição apresenta Zé Medeiros?
Fernandes - São as sequências de fotos mais significativas, como as do candomblé, que se transformaram em livro em 57, as dos índios xavante, e as do carnaval dos clubes cariocas. Matérias que viravam notícias nas capas da revista.
Medeiros também fotografou as praias do Rio, tema inédito e ousado para a época, e que ele soube captar com muita sensualidade.
Seu olhar se voltava para o povo brasileiro. As manifestações culturais, que registrou a partir dos anos 50, são hoje importantíssimas para o entendimento do processo histórico do país.
Folha - Nesse processo, como a herança de Medeiros chegou aos nossos dias?
Fernandes - Depois de 62, ele foi para o cinema. Foi diretor de fotografia de filmes memoráveis, como "Memórias do Cárcere" e "Xica da Silva". Morreu durante um festival de cinema na Itália.
Ver o trabalho do Zé é entender os trabalhos de Geraldo de Barros, Thomaz Farkas e José Oiticica.
Os profissionais como Walter Firmo, que trabalharam na revista "Realidade", outro marco editorial brasileiro, basearam seus trabalhos na visão de mundo do Medeiros, que continua atuante até hoje.

Exposição: José Medeiros
Onde: Instituto Cultural Itaú (av. Paulista, 149, tel. 011/238-1700, centro)
Quando: Amanhã, às 19h30; ter e sex, das 10h às 21h; sáb e dom, das 14h às 19h; até 8 de junho
Quanto: entrada franca Internet: http://www.ici.org.br

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