São Paulo, terça-feira, 13 de maio de 1997
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Mobutu fará 'muitas concessões', diz filho

DAS AGÊNCIAS INTERNACIONAIS

O presidente do Zaire, Mobutu Sese Seko, está disposto a fazer "muitas concessões" a seu inimigo, Laurent Kabila, afirmou seu filho N'Zenga. Não ficou claro se isso inclui a única concessão que Kabila pede -a renúncia de Mobutu em seu favor.
A definição da crise no terceiro maior país da África pode acontecer amanhã, quando os dois líderes têm encontro marcado em um navio sul-africano no Congo.
Será também o final de mais um ultimato dado por Kabila ao enfraquecido presidente do Zaire. "Vamos para o barco aceitar a renúncia de Mobutu, nada mais, nada menos", disse o "chanceler" dos rebeldes, Bizima Karaha.
"Já nos curvamos para acomodar o ditador, mas tudo tem limite, e chegamos ao nosso. A quarta-feira vai determinar se faremos uma aterrissagem suave em Kinshasa ou uma dura entrada militar."
Os rebeldes recuaram na oferta de conter sua marcha sobre Kinshasa, que haviam feito ao governo sul-africano, e disseram que vão continuar avançando enquanto se desenrolam as negociações.
Ao contrário do filho de Mobutu, o filho de Kabila parecia otimista, ontem. "Estamos avançando. Nossas forças caminham em todas as direções e nosso destino é a capital. Acho que é questão de dias", disse Joseph Kabila, comandante das unidades rebeldes na linha de frente.
Alguns rebeldes dizem estar já a 50 km da capital, mas outros admitem que ainda faltam 200 km para chegar. A Aliança das Forças Democráticas para a Libertação do Congo-Zaire diz que seu avanço foi dificultado com a aproximação da capital zairense.
Os rebeldes atribuem o ímpeto das tropas do governo ao auxílio que Mobutu estaria recebendo de homens da Unita, grupo político que agiu na guerra civil de Angola.
Concessões
As declarações do filho de Mobutu, feitas à TV belga, demonstram o aparente fracasso de uma manobra política de Mobutu no fim-de-semana. Seus partidários escolheram, no sábado, o arcebispo de Kisangani, dom Laurent Monsengwo, para presidir o Parlamento, cargo que estava vago.
Monsengwo se tornaria assim o sucessor legal de Mobutu em caso de renúncia ou impedimento dele -ou seja, o religioso passaria a ser praticamente o nome certo da transição para um novo governo.
A manobra fracassou porque os rebeldes dizem que não vão aceitar nem mesmo que ele assuma o Parlamento, muito menos que comande a transição -Kabila exige assumir ele mesmo o governo.
O principal opositor civil de Mobutu, Etienne Tshisekedi, também disse que não aprova o nome do arcebispo, que ainda não deixou claro se vai ocupar o posto.

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