São Paulo, terça-feira, 13 de maio de 1997
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Uganda cede homens a Kabila

JACQUES ISNARD
DO "LE MONDE"

Os serviços de informação europeus apontam a presença, em território zairense, de uma chamada "legião tutsi", que, segundo alguns analistas, teria sido arregimentada em Uganda para apoiar as forças de Laurent Kabila contra o marechal Mobutu Sese Seko.
As mesmas fontes consideram que o avanço rebelde pode ser qualificado como uma verdadeira agressão estrangeira vinda de Kampala, a capital de Uganda.
Segundo esses analistas, no início da rebelião contra o governo de Kinshasa, Uganda forneceu 2.000 homens. Mas em março passado, para a conquista de Kisangani, teriam sido mobilizados até 15 mil homens, entre eles integrantes do Exército ugandense regular, responsáveis pela logística.
Entre essas duas fases, segundo os especialistas em inteligência, provavelmente houve uma mudança de tática. No primeiro tempo, tratava-se de criar uma zona de segurança na fronteira entre Uganda e Zaire, que serviria como base dos comandos hostis.
Mais tarde, os ugandenses -ou, mais precisamente, aqueles que os serviços de inteligência descrevem como "saudosos do império tutsi"- decidiram ir mais longe e implantar-se em Kivu, para criar uma zona de segurança no leste do Zaire. Foi quando, sob a direção de Kampala, foi formada às pressas uma "legião" recrutada em Uganda, Eritréia e Burundi, a partir de mercenários enquadrados nos batalhões do Exército de Uganda.
O lado de Mobutu, aparentemente, também se vale de ajuda externa. A revista especializada "Raids" informou, com base numa sondagem documentada publicada em sua edição de maio, que as forças do marechal Mobutu contam com até 33 mercenários franceses e de outras nacionalidades (italiana, chilena, portuguesa, americana e belga) reunidos em dois grupos de intervenção, ao lado de aproximadamente cem sérvios. Cada um recebe US$ 6.000 mensais, enquanto os sérvios estão ganhando pouco mais de US$ 1.000 por mês.
O chefe dos mercenários não-sérvios, o "coronel" belga Christian Tavernier, seria assessorado por ex-comandos de Bob Denard. Suas armas seriam originárias em parte da Sérvia, da Ucrânia e do Egito. Segundo a "Raids", a operação seria financiada por fontes do Kuait (em agradecimento ao apoio zairense em 1990-91) e por empresários zairenses.

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