São Paulo, quarta-feira, 14 de maio de 1997
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Para advogados, ser mulher ajuda Paula

LUCIA MARTINS
DA REPORTAGEM LOCAL

Paula Thomaz terá um julgamento com menos pressão da opinião pública e ainda poderá se beneficiar do fato de ser mulher. Essa é a opinião de quatro dos cinco advogados criminalistas ouvidos pela Folha.
"Ela leva vantagem por ser mulher porque a imagem é de uma mulher presa, que teve um filho na cadeia e que, se participou do crime, participou grávida", diz Waldir Troncoso Peres, 73, que tem 50 anos de experiência com júri.
Segundo ele, "Paula teve menos responsabilidade no crime e já pagou por tudo". "Foi tão exaltado o sofrimento da Daniella, que esqueceram que Paula também está sofrendo. Não pode haver só punição, tem de haver piedade."
A mesma opinião é compartilhada por Antônio Claudio Mariz de Oliveira, 51. "O julgamento de Paula será mais sereno e muito mais calmo que o de Pádua."
Para o presidente da Associação Brasileira dos Advogados Criminalistas, Luiz Flávio Borges D'Urso, 37, a queda de interesse no julgamento de Paula é evidente e pode ser notada pelo número reduzido de reportagens sobre o fato nas últimas semanas. "Creio que ainda haverá alguma pressão, mas incomparavelmente menor do que a que houve com o Pádua."
Segundo ele, se o júri sorteado tiver mais homens, Paula sairá beneficiada porque, "tradicionalmente, os homens são mais compreensivos com mulheres". No caso inverso (com predominância de mulheres), diz Borges D'Urso, a ré poderá sair prejudicada porque "as mulheres são mais severas com acusadas do mesmo sexo".
Já para o advogado criminalista Lázaro Sanseverino Filho, 59, Paula tem uma grande chance de ser absolvida porque as pressões serão menores. "Já houve uma condenação no caso e, ao que parece, ela teve uma responsabilidade muito menor. A possibilidade de ela ser absolvida é muito grande."
Sanseverino Filho também acredita que o fato de Paula ser mulher ajuda porque "há uma benevolência tradicional do júri em relação ao sexo feminino".
"O advogado pode usar o fato de que uma mulher grávida sofre alterações psicológicas, o que reduz a culpa dela."
Já Marcio Thomaz Bastos, 61, acredita que a pressão vai continuar muito forte. "A Glória Perez está mandando cartas para os jurados. Além disso, há a pressão da Rede Globo. Isso não é um julgamento, é um linchamento."
Segundo ele, não há chances de Paula ser absolvida. "Com toda essa força sobre a opinião pública, não há chances para ela. É um jogo com cartas marcadas."

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