São Paulo, quarta-feira, 14 de maio de 1997
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Bodinus e Biber revivem

LUIS S. KRAUSZ
ESPECIAL PARA A FOLHA

Dois novos CDs trazem obras de compositores barrocos quase esquecidos: o alemão Sebastianus Bodinus e o eslovaco Heinrich Ignaz Franz Biber.
Bodinus (1700-1760) foi músico nas cortes de Württemberg, Karlsruhe e Baden. Sua obra tem influências de Lully, Marin Marais e Rameau -especialmente no uso de unidades temáticas breves e justapostas- e também de Corelli -como em seu tratamento da textura musical, sempre muito ornamentado.
Tem a exuberância sonora e a riqueza de ritmos e timbres alternantes características do barroco tardio, mas soa mais tosco do que J.S.Bach, quase seu contemporâneo e o primeiro a criar uma música barroca que pode ser classificada como genuinamente alemã.
Tributária da música francesa tanto quanto da italiana, mas sem acrescentar-lhe novos elementos, a música de Bodinus, ainda que refinada, não possui o que se possa chamar de estilo próprio.
Isto explica o seu relativo esquecimento ao longo dos séculos. Como a música de centenas de outros seus contemporâneos, destinava-se a acompanhar os rituais do cotidiano opulento da aristocracia.
Bodinus fez "apenas" boa música barroca -sobretudo trios-sonatas, das quais este disco traz seis.
Heinrich Ignaz Franz Biber (1644-1704) nasceu na Boêmia e só estudou em sua terra natal. Trabalhou em cortes eslovacas e também para o bispo de Salzburgo.
Embora fosse a Itália o centro irradiador das novas tendências musicais do século 17, ele só recebeu influências italianas por via indireta.
Há, em sua música, menos refinada do que a de Bodinus, alguns traços estilísticos originais e muitas reminiscências de um barroco primordial.
O CD dedicado a Biber traz uma amostra de vários tipos de música: "Mensa Sonora" é para acompanhar banquetes; o "Fidicinium Sacro-Profanum", (música de cordas sacro-profana), seguindo o mote de que o que é bom para a aristocracia é bom para a igreja, destinava-se tanto ao acompanhamento das missas quanto ao uso cotidiano na corte.
O mesmo vale para suas três "Sonatae tam Aris quam Aulis Servientes" (Sonatas que servem para o altar tanto para quanto para a câmera).
Estas obras de Bodinus e Biber chegam em interpretações historicamente informadas, em instrumentos de época, de membros do grupo eslovaco Musica Aeterna.
Os CDs ressuscitam um pouco deste repertório que, embora secundário do ponto de vista da história da música, não deixa de ter seu interesse.

CDs: Sebastianus Bodinus - Sonatas 1 a 6 Heinrich Ignaz Franz Biber -
Mensa Sonora Pars VI; Fidicinium Sacro-Profanum; Sonatae tam Aris quam Aulis Servientes
Intérpretes: Musica Aeterna
Lançamentos: Paulus/Slovart
Preço: R$ 18 (cada), em média

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