São Paulo, quarta-feira, 14 de maio de 1997
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MERCADO DE VOTOS

A social-democracia tucana viu-se obrigada a dar muitas explicações quando aliou-se ao PFL para levar Fernando Henrique Cardoso à Presidência da República. Argumentou-se então que o chamado pacto à direita, com um partido tido como oportunista, fisiológico e conservador, era necessário para conduzir ao poder um plano sério de modernização do país. Uma vez no governo, o PSDB levaria à frente seus projetos com técnicos e políticos competentes e honrados -não haveria espaço para a barganha política menor e muito menos para a corrupção. Recentemente, o presidente pedia àqueles que o acusavam de fisiologismo que apontassem, no "Diário Oficial", os beneficiados por favores para vender os seus votos no Congresso. O governo fazia questão de frisar sua lisura e a limpidez no relacionamento com sua base parlamentar.
Nem de longe pretende-se aqui relacionar a figura do presidente ao mercadejo abjeto de votos no Congresso, prática que, ao que tudo indica, ajudou a aprovar em primeiro turno a emenda da reeleição na Câmara, segundo revelou ontem esta Folha. No entanto, confirmada a compra de votos, o esquema de sustentação política do governo, que este pretende sério, teria marcas fortes de podridão; ficariam, assim, prejudicadas as intenções moralizadoras tucanas.
Se alguém comprou votos de deputados foi para se valorizar diante da estrutura do poder -se é que não estava a serviço direto de interessados na aprovação da emenda. É preciso investigar até onde vão as ramificações desse esquema. De qualquer modo, já são fortes as suspeitas de que elas vão até o topo da República.
Apesar do transtorno que possa causar pelo menos à vida política do país, parece inevitável a instalação de uma Comissão Parlamentar de Inquérito para esclarecer se funciona de fato uma rede de corrupção política e para identificar os seus articuladores. O Congresso e o governo FHC não podem ignorar a gravidade das denúncias e deixar de dar ao país satisfações sobre o que aparentemente ocorre nos subterrâneos dos poderes da República, sob o risco de desmoralizar a democracia.

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