São Paulo, quarta-feira, 14 de maio de 1997
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TRÁFICO, DERROTA SOCIAL

O tráfico de drogas serve como indicador do nível de deterioração em que se encontra uma sociedade urbana. Os traficantes aproveitam-se de quase todas as deficiências sociais e tecem esquemas que, uma vez estabelecidos, são difíceis de desbaratar. É um problema complexo, a exigir mais que a repressão policial.
Calcula-se que o tráfico empregue cerca de 50 mil pessoas na cidade de São Paulo e mais 20 mil na capital fluminense. São estimativas recentes da polícia antitráfico de São Paulo, do Núcleo de Estudos da Violência da USP e do chefe da Polícia Civil do Rio de Janeiro, Hélio Luz.
Estribado na miséria e na ausência de serviços sociais do Estado, o comércio de entorpecentes procura obter legitimidade junto a populações pobres custeando médicos, enterros, lazer ou até mesmo "segurança". Oferece "empregos" para os "inempregáveis" e excluídos em geral; paga melhor que o cada vez mais pobre mercado legal de trabalho. Combina tudo isso com a dependência do vício e a intimidação; arma um tipo de escudo civil, composto frequentemente de crianças, atrás do qual se escondem criminosos.
Políticas voltadas só para a repressão se têm mostrado incapazes de conter efetivamente essa atividade. Mesmo os EUA, que investem maciçamente no combate aos entorpecentes, não alcançaram resultados satisfatórios. Assim, visando principalmente a reduzir a violência, ressurge a tão discutida tese de liberar o consumo de drogas leves e reprimir com mais rigor as pesadas.
Mas um combate consistente ao comércio do vício remete, na verdade, a medidas de grande envergadura. É preciso substituir o "serviço social" dos traficantes pelo do Estado; treinar a polícia de modo a inspirar a confiança da população; manter as crianças na escola. Trata-se de um esforço amplo e difícil para impedir a degeneração social. Esse continua a ser o grande desafio do Brasil.

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