São Paulo, quarta-feira, 14 de maio de 1997
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Belo Horizonte, capital das Américas

AÉCIO NEVES

Delegações governamentais e empresários de 34 países das Américas vão estar em Belo Horizonte, esta semana, para mais uma etapa na discussão da formação da Área de Livre Comércio das Américas (Alca), prevista para entrar em funcionamento a partir de 2005. Nos diversos encontros, seminários, rodas de negócios e reuniões diplomáticas vai estar em pauta o futuro econômico desses países.
O ponto central dos trabalhos diz respeito ao cronograma que deverá ser implementado para viabilizar a Alca, que pretende se tornar o mais forte bloco de comércio mundial, em que pesem as diferenças econômicas entre seus países membros.
Se já estivesse em ação, a Alca ocuparia 39% da superfície da Terra, com 14% de sua população total, controlaria 22% da corrente mundial de comércio e deteria 36% da soma dos Produtos Internos Brutos (PIBs) de todos os países do globo.
Em um cenário internacional marcado pela globalização e pela disputa entre economias regionais, a perspectiva de participar de um bloco tão poderoso não pode ser menosprezada. Razão pela qual o governo brasileiro apóia e estimula a iniciativa. Posição que não implica desconhecer os problemas e desafios que existem em uma operação desse porte.
Essa é a razão pela qual ao Brasil interessa que as negociações avancem de forma consensual, impulsionadas pela vontade política fundamentada nos conceitos de equilíbrio, realismo e pragmatismo.
A Alca deve contribuir para a estabilidade das economias de seus países-membros, em uma perspectiva de longo prazo, tendo como objetivo final o bem estar das populações e o desenvolvimento social sustentado. Daí não se justificar a ênfase num cronograma de agenda rígido para a sua implantação.
Ao Brasil e a seus parceiros do Mercosul interessa que as negociações em torno da área de livre comércio sejam graduais o suficiente para proteger as suas economias, muitas delas em desenvolvimento. Preocupação que potências econômicas, como os Estados Unidos e o Canadá, não precisam ter.
Isso explica porque os Estados Unidos vêm insistindo na aceleração do processo, ao passo que os integrantes do Mercosul preferem a cautela. Como assinalou o presidente Fernando Henrique durante recente visita ao Uruguai, "toda situação que oferece oportunidades novas traz riscos" e precisamos ter clareza sobre o que vai ocorrer com as nossas exportações de aço, suco de laranja, têxteis e calçados, produtos sofrendo atualmente algum tipo de restrição para entrar no mercado dos Estados Unidos, país que é o principal incentivador da Alca.
A criação da área de livre comércio precisa, portanto, vencer muitos desafios, a começar pela desproporção entre os estágios de competitividade do Mercosul, por um lado, e do Mercado Comum do Norte (Nafta), integrado pelos Estados Unidos, Canadá e México, por outro, no que diz respeito a capitalização e financiamento, escala de produção, métodos de gestão, tecnologia, automação, infra-estrutura, tributação e legislação trabalhista, para citar apenas alguns aspectos.
Os desafios são inegáveis, mas o governo brasileiro já se lançou numa verdadeira cruzada buscando adequar nossa economia à nova realidade mundial.
Nesse processo, o Brasil não pode aceitar as imposições que venham a alterar ou modificar os rumos traçados pelo atual governo, e que passam, além do fortalecimento econômico e social do país, pela valorização do Mercosul e pelo avanço no relacionamento com os países da União Européia.

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