São Paulo, quinta-feira, 15 de maio de 1997
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Suframa era um dos objetivos de Amazonino para apoiar reeleição

IGOR GIELOW
DA REPORTAGEM LOCAL

A Suframa (Superintendência da Zona Franca de Manaus) era um dos principais objetivos políticos do governador Amazonino Mendes (PFL-AM) ao dar seu apoio à emenda da reeleição.
Amazonino, que está no exterior e não pôde ser contatado ontem, é apontado nas gravações obtidas pela Folha como um dos "compradores" dos votos de deputados.
O governador quer indicar o superintendente da Suframa, o que ampliaria sua força política.
Políticos de oposição são mais claros: "Agora está tudo claro. Amazonino está apenas cobrando uma dívida do governo", afirmou o candidato derrotado a prefeito de Manaus no ano passado Serafim Corrêa (PSB).
Em 23 de fevereiro, Corrêa enviou um fax a Fernando Henrique Cardoso com denúncias sobre superfaturamento e "caixa 2" em empreiteiras ligadas a Amazonino. O governo estadual sempre negou as denúncias.
"Acabei mandando um novo fax a FHC, desta vez mais explícito", disse Corrêa. No texto, de 2 de maio, Corrêa afirma a FHC que Amazonino "diz que é seu credor por lhe ter dado votos em favor da reeleição".
Motivação
O interesse de Amazonino pela Suframa tem raiz nas mudanças que o governo começou a promover na entidade em maio do ano passado.
Nomeando um técnico de sua confiança, o então ministro José Serra (Planejamento) ordenou uma devassa nas estruturas da Suframa -que administra R$ 2,8 bilhões de incentivos fiscais por ano para 350 empresas em Manaus.
O novo superintendente, Mauro Ricardo Machado Costa, começou então tocando no ponto mais sensível, a influência do governo estadual na Suframa.
Ela ocorria em diversas instâncias, mas sua faceta mais visível era a Fucapi -uma fundação com 13 anos de idade e R$ 30 milhões anuais em contratos para processar os dados da Suframa.
O relacionamento foi regulamentado. Setenta funcionários supostamente fantasmas foram demitidos, entre eles a irmã e uma sobrinha de Amazonino.
Além disso, a nova gestão endureceu o tratamento com empresas e regulou o uso de R$ 90 milhões anuais disponíveis para investimento, usados majoritariamente por políticos locais.
Pressão
Por conta de seu apoio à reeleição, Amazonino passou a pressionar o ministro Antonio Kandir (Planejamento) a substituir Mauro Costa.
Lembrava, em recados por meio de deputados amigos, que até entrara no governista PFL.
Parlamentares ligados a Amazonino, como Pauderney Avelino, seguiram o mesmo caminho e saíram do PPB -então um duro adversário da reeleição.
O ministro também não quer Mauro Costa na Suframa porque ele é da confiança de seu antecessor. O superintendente foi procurado pela Folha, mas preferiu não dar declarações sobre o caso.
Por outro lado, foi pressionado pelo PSDB do Amazonas a manter Mauro Costa em um abaixo-assinado de 32 parlamentares de oposição do Estado.
O documento foi capitaneado por Arthur Virgílio Neto, secretário-geral do PSDB e principal opositor político de Amazonino.
O governador quer a Suframa de volta também para ganhar cacife político para a eleição do ano que vem. Administrado por um homem de confiança do governo, o órgão é por decorrência uma instância de prestígio para o tucano Virgílio Neto.
O ministro aproveitou a confusão jurídica do leilão da Vale, entre o dia 29 de abril e a sexta-feira passada, para adiar a decisão.
Na sexta, chegou a falar abertamente que havia pressões para demitir Costa porque Amazonino estava "chateado". "Ele ainda não está demitido", resumiu.
Pauderney Avelino comemorou, dizendo que Costa estava fora. Ontem, Kandir reconfirmou estar sob pressão (leia texto ao lado). Mas as revelações envolvendo o governador -e o próprio Avelino- devem paralisar o processo.

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