São Paulo, quinta-feira, 15 de maio de 1997
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Concessão de visto para EUA é discriminatória, diz diplomata

JOÃO CARLOS ASSUMPÇÃO
DE NOVA YORK

Robert Olsen, 52, ex-vice-cônsul norte-americano em São Paulo, denunciou a existência de uma política de discriminação racial na concessão de vistos para brasileiros viajarem aos Estados Unidos.
Ele alega ter sido demitido em 1994 por ter discordado dos "conceitos subjetivos", baseados na cor, ascendência ou aparência física, usados pelo consulado para dar vistos a brasileiros que quisessem ir aos Estados Unidos.
O diplomata norte-americano mostra-se otimista em relação ao processo contra o Departamento de Estado. Segundo Olsen, negros, descendentes de coreanos e palestinos e indivíduos entre 18 e 35 anos que aparentemente não fossem de famílias abastadas deveriam ter o visto negado ou passar por uma entrevista mais rigorosa.
Ele declarou também que o Departamento de Estado, o "Itamaraty norte-americano", teria passado ao consulado um código interno que classificava os brasileiros em cinco grupos.
O primeiro era o LP (looks poor), para quem parecesse pobre. O segundo, LR (looks rough), para o "sem educação". O terceiro, TP (talks poor), se o indivíduo se expressasse mal. O quarto, TC (take care), se fosse considerado suspeito. O quinto, RK (rich kid), se aparentasse riqueza.
No processo, aberto na Corte Federal de Columbia, Olsen pede US$ 750 mil como indenização. Recentes decisões judiciais nos EUA estão animando o ex-cônsul.
Na semana passada, um juiz de Nova York condenou um condomínio da cidade a pagar US$ 640 mil por negar um apartamento a um casal, porque o marido era negro. Um dos membros do condomínio confessou ter escrito durante uma das discussões sobre a proposta do casal, "black man" (homem negro). No julgamento, disse que se sentiu melhor quando soube que a mulher era branca.
"O caso é semelhante ao que aconteceu em São Paulo", disse.
Entrada ilegal
O Departamento de Estado nega as acusações de Olsen, afirmando que só são negados vistos para quem mostra intenção de morar ilegalmente nos Estados Unidos.
Segundo o departamento, em nenhum momento houve alguma ordem para proibir a entrada de negros brasileiros no país.
Madeleine Albright, atual secretária do departamento, negou ainda a adoção de critérios subjetivos para conceder os vistos de entrada.
Na época da demissão do diplomata, quem respondia pelo departamento era Warren Christopher.
No consulado norte-americano no Brasil, a assessoria de imprensa informou que não irá comentar o caso, mas repudia qualquer acusação de recusa de vistos por discriminação de qualquer tipo. Segundo a assessoria, dos 300 mil vistos emitidos por ano no país, apenas 6% são negados, quando não há provas de que o candidato ao visto tem motivos para voltar ao Brasil.

Colaborou a Reportagem Local

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