São Paulo, quinta-feira, 15 de maio de 1997
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Vamos ficar de olho no Congresso

MATINAS SUZUKI JR.
DO CONSELHO EDITORIAL

Meus amigos, meus inimigos, enquanto chegava às mãos do presidente da República um projeto para a transformação do futebol brasileiro (sobre o qual não temos ainda os detalhes), no Congresso Nacional, o deputado Eurico Miranda, que até hoje se identificou com as relações arcaicas no setor, assume o comando da subcomissão que investiga as irregularidades nas arbitragens.
Tristes e irônicos trópicos, pobre país das desigualdades e das diferenças aberrantes.
Vimos, nos últimos dias, os acusados dos mais diversos escândalos encenando o papel de guardiães da moralidade pública, rezando para o país o terço dos humilhados e ofendidos e deixando essa vergonha aqui cada vez mais longe de uma verdadeira nação.
Ficou com o lobo as chaves do galinheiro.
Convirá ao Congresso Nacional, com a imagem descendo a níveis inimagináveis, pagar o ônus de acobertar, mais uma vez, um escândalo no futebol, a manifestação cultural e lúdica mais importante para o brasileiro?
Estará a opinião pública disposta a ser, mais uma vez, tratada com escárnio pelos seus "representantes" no Congresso Nacional?
Os congressista sabem muito bem que o ano que vem será um ano de eleição para a renovação do Congresso. E será também um ano de Copa do Mundo.
O futebol estará na agenda do ano que vem. Mas o ano que vem já começou, seja na política seja no futebol.
É visível que a sociedade brasileira hoje está mais consciente da necessidade de modernização, reformulação e moralização do futebol.
Só que os partidos e o Congresso, até agora, estão descolados dos rumos da sociedade, nessa e em tantas outras questões.
Estar preso aos esquemas das federações e dos negócios obscuros do futebol pode começar a pesar mais contra do que a favor dos atuais e futuros congressistas e é bom que eles estejam atentos a esse fato.
Se o PSDB, com incontáveis tucanos que se interessam pelo futebol, é verdadeiramente um partido preocupado com a modernização do país, como os seus deputados e senadores atuarão nessa matéria?
O PFL e o PPB não são os campeões da defesa da privatização? Pois como atuarão nesse processo que prevê a transformação dos clubes em empresas?
E o PT, partido até agora omisso nessa questão -apesar de se colocar como um aliado das causas populares (não há nada mais popular nesse país do que o futebol)?
O colunista Armando Nogueira manifestou ontem o seu pessimismo com relação ao Congresso Nacional na questão do escândalo do apito.
Até parece que ele estava adivinhando que a coisa cairia no colo de Eurico Miranda.
A bola está quicando na grande área do Congresso. Na nação futebolística, a cidadania também tem direitos que querem ser respeitados.

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