São Paulo, quinta-feira, 15 de maio de 1997
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Temos uma crise

CLÓVIS ROSSI

Belo Horizonte - Jornalista adora a palavra crise. É genético. Jornalista brasileiro, então, adora mais ainda, viciado que foi pelos últimos muitos anos de crise permanente (e grave).
Por isso, talvez tenhamos exagerado mais recentemente na utilização dessa palavra. O governo FHC produziu apenas crisezinhas.
Agora, no entanto, a palavra crise cabe à perfeição.
Basta bater os olhos nos jornais de ontem (ou ter ouvido os telejornais da véspera). Normalmente, os meios de comunicação não se ocupam de temas que tenham sido levantados com exclusividade por um concorrente.
Não foi o que ocorreu com a compra de votos para a reeleição. Todos os jornais alçaram à capa, ontem, o que a Folha publicara na véspera. Nos telejornais, a história foi dada como absolutamente verídica, até pelos comentaristas mais serenos.
O presidente do Congresso, Antonio Carlos Magalhães (PFL-BA), apareceu no "Jornal Nacional", da Rede Globo, sugerindo a cassação do principal envolvido (até anteontem), Ronivon Santiago (PFL-AC).
O corolário inevitável é cristalino: todo o processo que conduziu à aprovação da emenda da reeleição está sob suspeição.
Se o presidente Fernando Henrique não quiser correr o risco de ver tal suspeição manchar um eventual segundo mandato (ou a própria campanha "reeleitoral"), deveria ser o primeiro a propor ao Congresso que tudo começasse de novo.
Se eu tivesse algum leitor fiel, saberia que não é afirmação de um derrotado. Sou a favor de que todos os atuais mandatários tenham o direito a disputar a reeleição.
Mas sou muito mais a favor de que haja limpeza (ao menos um mínimo dela) no jogo político. As fitas que Fernando Rodrigues levantou e esta Folha publicou revelam uma sujeira tão profunda que ou se zera o jogo ou ela contaminará todos os beneficiários do processo.

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