São Paulo, sexta-feira, 16 de maio de 1997
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Com o poder nas mãos

JANIO DE FREITAS

A diferença não está na fanfarronice, que é a mesma nos dois casos, mas na crença dos autores em suas próprias palavras. Na continuada revivescência do passado, Fernando Henrique Cardoso emite o seu "prendo e arrebento". Mas o general Figueiredo falava diante de um fato obscuro e ainda acreditava mesmo no teor da frase, atribuindo-se à sua desilusão o desgosto de governar ostentado até o último instante de poder. Fernando Henrique, ao dizer que "qualquer pessoa envolvida em assunto dessa natureza será imediatamente desligada do governo", foi motivado pelo comprometimento de Sérgio Motta na corrupção. E aí está a diferença essencial entre as duas frases.
Sérgio Motta só deixará o governo em uma de duas situações: forçado por ação judicial ou parlamentar que o governo não possa deter, o que é hipótese para lá de remota; ou por decisão própria, ainda que para poupar Fernando Henrique de ônus que se tornassem excessivos. Por decisão sua, Fernando Henrique não pode demitir Sérgio Motta.
No governo ou fora dele, ninguém está mais entranhadamente ligado a Fernando Henrique do que Sérgio Motta. Embora alguns jornalistas publiquem, a cada acesso de Motta, que "o presidente ficou aborrecido", "o presidente o repreendeu", é notório e inquestionável, para todas as pessoas medianamente informadas sobre as realidades da política, do governo e dos negócios, que os dois formam uma unidade e tudo o que cada um faz está em combinação com o outro.
Não é uma relação de todo incomum na política. Sua peculiaridade está em que Fernando Henrique concentra em Sérgio Motta o que outros políticos costumam dividir entre vários, ainda que dando a um deles muito maior importância, como fazia Fernando Collor. Comum a todas essas associações de interesses é terem como alicerce a dependência, mas não em igual proporção para um lado e outro. O operador tem muito menos a perder do que aquele para o qual opera e que é o detentor das condições, políticas ou administrativas, que possibilitam a existência do esquema de operações. Sérgio Motta é indemissível. O que nada tem a ver com falta de motivos para demissão e muito mais. Como sabem tantos, inclusive Fernando Henrique Cardoso.

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