São Paulo, sexta-feira, 16 de maio de 1997
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Dinheiro para estradas era tema constante

FERNANDO RODRIGUES
DA SUCURSAL DE BRASÍLIA

Os deputados do Acre Ronivon Santiago e João Maia, recém-expulsos do PFL, falam sobre acertos de obras de engenharia civil.
Como de costume, a Folha continua a identificar o interlocutor apenas como "senhor X". A identidade da pessoa que fez as as gravações será preservada.
Algumas frases do "senhor X" foram condensadas para dificultar a possibilidade da sua identificação.

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As empresas
Neste trecho, Ronivon fala de suas emendas ao Orçamento da União. Ele menciona um nome até agora inédito nas conversas já divulgadas pela Folha: "Portella". Trata-se de José Luiz Portella Pereira, secretário-executivo do Ministério dos Transportes e pessoa de confiança absoluta de FHC.
Ronivon diz ter conseguido uma obra em Manaus e elogia o governador daquele Estado, Amazonino Mendes (PFL). A pergunta do "senhor X" neste trecho se referia à forma como os deputados têm sido tratados pelos governos federal e estadual do Acre:
Senhor X - Mas é um tratamento filho da mãe, não é?
Ronivon - Filho da mãe. Eu estou lá porque a firma está lá trabalhando, e vai trabalhar tudinho, vão saldar lá e eu já ajudei, tem dinheiro no Orçamento, eu botei todas as minhas emendas pra lá, você viu, né, 1.500, tal, né? Trabalhando, está carimbada aí. O Portella disse que libera em abril. Aí eu estou correndo lá. Mas eu estou correndo lá e em outro local também... Manaus, não é? Eu consegui uma obra em Manaus com um cara lá, e o cara está fazendo. O Amazonino é mais rocha.

Orleir libera verba
Senhor X - Roni, e o que que o Orleir tá fazendo em Brasília? Você sabe, não?
Ronivon - Ligaram pra um negócio de uma audiência hoje.
Senhor X - Ele vai liberar as verbas da BR?
Ronivon - Não sei.
Senhor X - Será que vai ser fácil liberar?
Ronivon - Olha, pelo que ouvi as conversas, eu acho que vai ser.
Senhor X - Porque você sabe que, na véspera da votação (da reeleição), ele (Orleir) esteve com o presidente da República.
Ronivon - Foi. Esteve. Tem ordem lá para liberar a verba agora em abril.
Senhor X - Na renegociação foi tratado já esse assunto?
Ronivon - Foi.
Senhor X - Foi? Certeza absoluta?
Ronivon - Certeza. E tem ordem lá para liberar agora em abril que eu vi lá. Eu estive com o Portella, do Ministério dos Transportes, que é o cara que coordena as liberações, ele me falou que tem ordem superior já, recebeu ligação superior já pra dar a liberação do Acre.
Ronivon - Tu quer que eu diga um negócio, por que que eu tô votando a favor do governo? Tu quer que eu diga um negócio? Eu ligo aqui na tua frente. Tu sabe quem que libera o dinheiro para as BR hoje? É o Portella. Tá na mão dele. E o Portella eu ligo pra ele, ele tá em São Paulo. Eu ligo pra ele agora, se tu quiser ouvir agora...
Senhor X - ...Não.
Ronivon - Amanhã, é, segunda-feira... ele vem terça-feira, ele tá me liberando os R$ 6 milhões da... da 317 de lá. Pô, tu quer o quê? Tu acha que eu vou votar o quê? Contra?

Quinhentão
Este trecho contém algumas informações cifradas, as quais Folha ainda não sabe o significado exato. Por exemplo, quando Ronivon fala em ter interesse nas liberações e diz "quinhentão". Também chama a atenção neste trecho a menção ao governador Orleir Cameli, apontado por Ronivon como um dos interessados "quando ele paga aquele pessoal aí das estradas":
Senhor X - E tu acha que vão liberar mesmo o dinheiro, da BR?
Ronivon - Eu acho que vão. Pelo que eu ouvi lá. Eu fui lá. Porque eu tenho interesse, né? Porque, aí eu fui lá. Quinhentão. Trabalhamos, orçamento aprovado. Foi aprovado na semana passada, né?
Senhor X - Mas, só com aquele orçamento não vai dar não, né?
Ronivon - Dá não. Mas o presidente se comprometeu no final do ano completar a etapa com mais 30 mil.
Senhor X - 30 milhões?
Ronivon - Foi.
Senhor X - Ah, sim. Porque só do orçamento é muito pouco, né?
Ronivon - É. 35.
Senhor X - Mas, pra BR só tem 14. A BR é 14 ou é 15.
Ronivon - É, mas o total, entre tudo, né, construção e restauração, 34. Não é isso?
Senhor X - Então é por isso aquele interesse do Orleir nos votos era por isso, né?
Ronivon - É. Às vezes ele tem interesse quando ele paga aquele pessoal aí das estradas, ele tá por dentro, né?

Orleir e Amazonino
Aqui, o deputado é João Maia. Há várias revelações. Uma delas é que o governador Orleir Cameli tem se aproximado muito do ministro das Comunicações, Sérgio Motta.
Fruto dessa aproximação, segundo Maia, renderia a Cameli uma ajuda de R$ 25 milhões a R$ 30 milhões do programa de ajuda a bancos estaduais em dificuldades. No final, Maia revela que existem "grandes acertos entre o Orleir e o Amazonino":
Senhor X - Esse relacionamento (de Orleir Cameli com os deputados) é muito ruim, né?
Maia - E o pior é que você não muda. E, veja bem, o Orleir sabe que, no fundo, compra os estaduais. O Orleir sabe que tem uma credibilidade razoável hoje aqui em Brasília. Já chegou até ao Sérgio Motta. A última vez eu me coloquei à disposição para ir ao Sérgio Motta, ele pegou e foi sozinho. Porque o negócio era a jogada do Proer. E era jogada de 25 a 30 milhões, você entendeu? E está começando a lidar só.
Senhor X - João, você acha que Sérgio Motta participou com dinheiro naquele negócio da reeleição?
Maia - Doutor, isso dependendo da área, na nossa área, era o Amazonino. O Amazonino já tinha mandado vir o dinheiro, quando chegou, naquela segunda-feira à noite, você entendeu? Então Orleir chegou e disse: 'Não admito uma coisa dessas, interferência'.
Senhor X - Sabe por quê? Porque ele estava com medo de Amazonino capitalizar.
Maia - Sim, claro. E hoje, vou dizer o seguinte, há grandes acertos entre o Orleir e o Amazonino. Reeleição do Amazonino. Reeleição do Orleir. Há um grande troço. Vá no Amazonas e veja o que a Marmud está pegando para fazer aeroportos no interior. A situação está muito bem montada.

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