São Paulo, sexta-feira, 16 de maio de 1997
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Empreiteira da família Cameli foi beneficiada por Amazonino

EMANUEL NERI

EMANUEL NERI; ANDRÉ MUGGIATI; LUCAS FIGUEIREDO
ENVIADO ESPECIAL A MANAUS

ANDRÉ MUGGIATI
LUCAS FIGUEIREDO
A empreiteira Marmud Cameli é um dos principais elos entre os governadores Orleir Cameli (AC) e Amazonino Mendes (AM), suspeitos de envolvimento no esquema de compra de votos para aprovar a emenda da reeleição.
Cinco deputados do Acre receberam cheques de R$ 200 mil da empreiteira para votar a favor da reeleição, segundo gravações obtidas pela Folha. No dia da votação do primeiro turno da emenda, 28 de janeiro, os cheques foram trocados por dinheiro pelo próprio Cameli, após sugestão de Amazonino, ainda segundo as gravações.
Os sócios da empreiteira, segundo dados da Junta Comercial do Acre, são Orleir, Eládio (seu irmão) e Marmud (seu pai, que dá nome à empreiteira).
Amazonino é amigo pessoal do governador do Acre e de Eládio, que representa a Marmud na capital amazonense. Segundo as gravações, foi Eládio quem entregou os cheques aos parlamentares.
Segundo o TCE (Tribunal de Contas do Estado) do Amazonas, a Marmud é a segunda empresa que mais se beneficiou no Estado com obras sem licitação em 1995.
Nesse ano, a empreiteira recebeu R$ 16,9 milhões por obras não-licitadas do governo de Amazonino. No mesmo ano, recebeu um total de R$ 18,3 milhões referentes a obras para o Estado e para a Prefeitura de Manaus, ligada ao esquema político de Amazonino.
Uma segunda empresa da família Cameli, a Conave Comércio e Navegação, também executa obras para o governo amazonense. A empresa faz escolas flutuantes que integram projeto que percorre os principais rios do Amazonas.
As obras com verbas federais feitas pela Marmud incluem um trecho de 35,84 kms no Amazonas da BR-174, que liga o Brasil à Venezuela. Por essa obra, a Marmud deve receber R$ 6,2 milhões.
O total da obra no Estado custará R$ 54,2 milhões -deste total, o governo federal contribui com R$ 27 milhões. O restante é pago pelo governo amazonense.
A outra obra do governo federal que está sendo feita no Amazonas pela Marmud é o aeroporto de São Paulo de Olivença (AM) -seu custo é R$ 3,4 milhões.
A Marmud se instalou há pouco tempo em Manaus e passou a disputar obras do Estado depois que Cameli se elegeu governador do Acre, em 94, mesmo ano em que Amazonino se elegeu governador.
A empreiteira fraudou os cofres públicos em R$ 1,78 milhão entre 88 e 89. A informação da fraude consta de inquérito da Polícia Federal e da Receita Federal de dezembro de 94 obtido pela Folha.
Segundo os documentos, as irregularidades cometidas pela empreiteira abrangem emissão de notas "frias", sonegação de Imposto de Renda e contribuições sociais.
"As notas fiscais de números 089494, 089495 e 089496 (...) são falsas", diz trecho do inquérito 085/94 de responsabilidade das delegacias da PF e da Receita no Acre.
Antes da investigação, a empreiteira já havia recebido multas da Secretaria de Fazenda do Acre por ter sonegado ICMS.
A fortuna declarada do governador está basicamente na empreiteira acusada de sonegação e emissão de notas "frias".
Quando tomou posse, 1º de janeiro de 95, o governador declarou que seus bens eram avaliados em R$ 1,08 milhão, sendo que R$ 1,07 milhão referia-se à participação acionária na empreiteira.
São duas as modalidades de irregularidades encontradas na empresa: sonegação de Imposto de Renda da Pessoa Jurídica (a empresa omitiu receitas e utilizou "documentos inidôneos") e contribuições sociais (foram cometidas "infrações" referentes ao recolhimento para o PIS e Finsocial).

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