São Paulo, sexta-feira, 16 de maio de 1997
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Público reúne 'loucos por julgamento'

FERNANDA DA ESCÓSSIA; LUCIA MARTINS; MAURO TAGLIAFERRI
DOS ENVIADOS ESPECIAIS AO RIO E DA SUCURSAL DO RIO

Pessoas que acham que encontraram a arma do crime, fãs de julgamentos e loucos por desgraças se revezavam ontem no 1º Tribunal do Júri, no Rio.
Edilson Saboya, 61, chegou por volta de 15h com uma tesoura que afirmava ser a arma usada para matar Daniella Perez.
Disse que encontrou a tesoura em 93 em uma rua do subúrbio do Rio, toda suja de sangue, dentro de uma bolsa, mas que não avisou a polícia porque deve dois derrames e não conseguia andar.
Recuperado, ontem entregou a suposta arma do crime à mãe da atriz, Glória Perez.
O caso de M. (ela não quis se identificar) é diferente. Ela é louca por julgamento. Disse que já foi jurada mais de 50 vezes e calcula que já assistiu a centenas de julgamentos. "Sempre gostei e hoje me considero uma especialista em julgamentos", contou.
Para ela, Paula é culpada. "Não tenho dúvidas. A condenação é certa", disse ontem à tarde. Ela tinha assistido ao primeiro dia e ontem disse que ficaria até o final.
Outra que sempre frequenta as filas do tribunal para ver um julgamento é a estudante Leandra Souza, 16.
Ela disse que pretende estudar direito "para poder assistir do outro lado".
Frequentador de enterros
Jaime Dias Sabino, 71, disse que prefere enterros a julgamentos. Mesmo assim, assistiu às sessões de ontem e anteontem.
Sabino afirmou que é secretário do prefeito de Nilópolis (Baixada Fluminense) e que já compareceu a mais de 600 sepultamentos, inclusive os de Getúlio Vargas e Juscelino Kubitschek.
"Os mortos não fazem mal a ninguém", disse. "Ainda vamos perder muita gente importante. Quem sofre pela população tem a vida mais curta", sentenciou.
Também estava presente ao julgamento de Paula Thomaz um veterano do caso Daniella Perez. O músico Sílvio Miranda, 29, vestia a mesma camiseta (com a foto da atriz morta e a palavra "Justiça") que usou no julgamento de Guilherme de Pádua, em janeiro.
Segundo ele, tanto Pádua quanto Paula pertencem a uma seita de magia negra.
"Represento o povo evangélico e não admitimos magia negra", disse.
Ermínia Lopes, 73, que conseguiu parar manifestantes e policiais nos protestos contra o leilão da Vale do Rio Doce, foi outra que apareceu no tribunal ontem. Ela disse que é fã da novelista Glória Perez e defendeu a punição.
"Deviam fazer com ela a mesma coisa que fizeram com aquele índio em Brasília", afirmou, referindo-se ao pataxó Galdino dos Santos, morto ao ter o corpo incendiado por cinco jovens.
(FE, LM e MT)

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