São Paulo, sexta-feira, 16 de maio de 1997
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Flórida defende restrição a suco brasileiro

CLÓVIS ROSSI
DO ENVIADO ESPECIAL

Com a habitual franqueza com que os norte-americanos enfrentam os temas delicados, o governador da Flórida, Lawton Chiles, admite que não seria sua decisão "preferida" o levantamento das barreiras que o governo norte-americano impõe ao suco de laranja brasileiro.
A Flórida, como grande produtor de cítricos, é o Estado que mais firmemente se opõe a uma liberalização nessa área, frequentemente esgrimida pelo governo brasileiro como demonstração de que o liberalismo que os EUA defendem não é inteiramente aplicado por eles próprios.
No caso do suco de laranja, os EUA cobram uma sobretaxa de US$ 440 por tonelada, o que equivale a uma tarifa de importação de 42,5%, ou sete vezes a tarifa média norte-americana.
Com isso, o Brasil perde cerca de US$ 400 milhões ao ano em exportações, de acordo com cálculos da Funcex (Fundação de Comércio Exterior).
O governador Chiles devolve a queixa dizendo que todos os países têm reclamações do gênero em relação a seus parceiros.
E admite que uma redução na sobretaxa pode ser um "elemento de barganha" nas negociações para a Alca (Área de Livre Comércio das Américas).
Afinal, diz Chiles, "a meta global vale a pena".
Exportações em alta
Para a Flórida, certamente vale muito a pena: as exportações do Estado para a América Latina cresceram 50% nos últimos cinco anos, batendo em US$ 37 bilhões no ano passado.
Com novas reduções das barreiras à importação por parte dos países latino-americanos, o comércio certamente cresceria mais.
Por isso mesmo, Chiles chefia uma imponente delegação empresarial (75 pessoas) para "vender" a Flórida aos brasileiros, o parceiro número um do Estado.
A divergência, acha o governador, é mais quanto ao ritmo de construção da Alca. Como o governo brasileiro, os empresários têm dito que não convém andar muito depressa.
Empreendimento conjunto
"Muita gente se surpreenderia com a qualidade de alguns itens das exportações brasileiras para a Flórida", diz Chiles.
Manuel Mencia, vice-presidente da "Enterprise Florida", põe fatos concretos nessa constatação empírica:
1 - A Embraer montou seu quartel-general mundial para vender aviões na Flórida e está se tornando "dominante" na área de aeronaves de médio porte para vôos regionais.
2 - A Odebrecht desempenha papel relevante na área de construção civil, tendo atuado na ampliação do aeroporto de Miami, entre outras obras.
3 - A Sadia está entrando no mercado com carne processada e alimentos em geral.
Ou seja, a imagem de que o Brasil entraria na Alca apenas com produtos primários e semi-elaborados não é inteiramente verdadeira, ao menos do ponto da vista dos empresários da Flórida.

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