São Paulo, sexta-feira, 16 de maio de 1997
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"Hollywood é fast-food", afirma Besson

PATRICIA DECIA
DA REPORTAGEM LOCAL

Luc Besson parece não gostar de ser chamado de cineasta francês. Apesar de a nacionalidade estar correta, ele faz questão de dizer que a obra de um artista é uma criação completamente pessoal e independe de onde ele nasceu.
O cineasta esteve em São Paulo para divulgar "O Quinto Elemento", filme que abriu o Festival de Cannes e já é sucesso de bilheteria na França e nos EUA.
Uma ficção científica ambientada em Nova York, no século 23, "O Quinto Elemento" mostra a humanidade lutando contra um mal supremo vindo do espaço, que poderá acabar com a vida na Terra.
Segundo o cineasta, apesar de o filme ser falado em inglês e ter Bruce Willis como protagonista, não é Hollywood puro. "A maneira que a indústria norte-americana faz filmes é a mesma pela qual faz comida. É fast-food", disse à Folha, no hotel Ceasar Park. A seguir, os principais trechos da entrevista.
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Folha - Seu filme parece ter referências e citações a outras produção como "Blade Runner", "Duro de Matar" e até "Guerra nas Estrelas". Foi intencional?
Luc Besson - Não existem tais semelhanças, citações. Eu me lembro de uma crítica ao meu primeiro filme. O autor listou inspirações de cinco filmes e eu não havia visto nenhum. Fui à locadora para ver do que ele estava falando.
Folha - Mas não há nenhuma citação?
Besson - Apenas uma, e é uma piada. O penteado do major que se passaria por mulher de Korben Dallas é o mesmo da Princesa Leia. Foi apenas uma piada. Há três temas na vida: "Hamlet", a Guerra de Tróia e "Romeu e Julieta", nada mais. Você pode relacionar todos os filmes e livros a esses três temas. A única coisa que muda é o ponto de vista do artista que fala sobre ele. O problema em ficção científica é que nós temos poucas referências. Há quatro ou cinco grandes filmes de sci-fi, como "Blade Runner", "Alien", "Brazil", "2001 - Uma Odisséia no Espaço".
Onde seu filme inova?
Besson - A novidade é o fato do artista poder se divertir. A maioria dos filmes de sci-fi são sérios, assustadores. Esse diz várias coisas boas com um sorriso o tempo todo. É o acesso à comédia, normalmente não permitido na ficção científica, a grande mudança.
Folha - Você escreveu a história quando era adolescente. Porque resolveu filmá-la agora?
Besson - Eu tinha esse mundo aos 16 anos. Não era muito feliz no meu mundo, era chato e eu vivia sozinho, então escrevia como uma maneira de escapar. Mas não havia uma história, não tinha nada a dizer. Quando tinha 30, havia algumas coisas que queria dizer, e pensei que esse século 23 que eu havia imaginado seria um bom background. O interessante de o filme se passar no futuro é dizer todas as coisas, de dizer no passado aconteceu, no presente acontece e pode acontecer no futuro também. É a maneira de como esquecemos o conhecimento. Se você coloca a ação no futuro, é mais óbvio.
Folha - Qual a essência do filme?
Besson - É caracterizada por uma fala de Leeloo, que diz: "Qual a utilidade de salvar vidas quando se vê o que vocês fazem com ela?". Para mim, essa é a articulação de todo o filme. Ela nasce, vê o mundo, gosta dele e aprende o que as pessoas fazem com a vida.
Folha - Como um cineasta francês...
Besson - Eu sou um cineasta. Sou francês e sou um cineasta. Arte é uma expressão individual. Não depende de onde essa pessoa nasceu, do que ela come, sua relação com seus pais, é uma experiência totalmente pessoal.
Folha - Mas você fez uma escolha pelos efeitos especiais, por filmes hollywoodianos, de ação. Por quê?
Besson - Porque quando se tem algo importante a dizer, minha filosofia é dizê-lo com um sorriso. Hoje, se você quer falar com um garoto de 15 anos sobre guerra e colocar uma reportagem sobre a última guerra mundial na televisão, ele vai trocar de canal.Agora, se você faz com que ele se apaixone por Leeloo e faz Leeloo chorar em frente à guerra, ele ficará preocupado. É possível dizer algumas coisas sobre violência, armas, vida, amor, mesmo parecendo um pouco ingênuo. O final é o resumo de um filme. Um homem e uma mulher juntos, falando de amor e salvando o amor. E a única coisa que pode salvar o mundo é esse homem amar essa mulher.
Folha - O que fará agora?
Besson - Nada. Estou de férias.

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