São Paulo, sexta-feira, 16 de maio de 1997
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Carvana deixa esquizofrenia em 'O Homem Nu'

DENISE MOTA
DA REDAÇÃO

Em "O Homem Nu", que estréia hoje, o ator, diretor, roteirista e produtor Hugo Carvana fugiu do script.
Ao contrário de seus quatro filmes anteriores, em que também atuou nos papéis principais, Carvana decidiu apenas se envolver com a direção.
"Isso era muito esquizofrênico. Queria passar pela experiência de dirigir um filme e vivenciá-lo somente como diretor", afirma.
Diretor e ator de comédias como "Vai Trabalhar, Vagabundo 2 - A Volta" (1991), "Bar Esperança" (82) e "Se Segura, Malandro!" (78), Carvana agora prepara "Tempestade Cerebral", mais um filme de humor. Leia a seguir, trechos da entrevista que o diretor concedeu à Folha, em São Paulo.
*
Folha - Por que, após seis anos sem filmar, você decidiu levar às telas "O Homem Nu"?
Hugo Carvana - Em geral, quando estou fazendo um filme, já estou pensando em outro. Nesse caso, não. Entre meu penúltimo filme, "Vai Trabalhar, Vagabundo 2" e esse, eu fiquei meio sem saber o que faria. Só sabia que eu não queria ser ator principal e também que queria dirigir um filme em que não tivesse a obrigação de escrever o roteiro.
Saí então à cata de uma história e encontrei "O Homem Nu".
Folha - O filme foi rodado em cinco semanas e custou US$ 1,3 milhão. Como foi o cronograma das filmagens?
Carvana - Tive que montar uma engenharia de produção para que o filme ficasse dentro do custos. Precisava ter um ator disponível todos os dias. Ia ser o José Wilker, mas ele não podia. Por acaso, o Cláudio Marzo tinha acabado de fazer "Irmãos Coragem", na TV Globo, e telefonei para ele. Por ter o Cláudio todos os dias, pude filmar em cinco semanas e a esse custo.
Folha - O conto de Fernando Sabino remete ao Rio dos anos 50. Foram feitas muitas mudanças no roteiro original para levar a história aos anos 90?
Carvana - No conto dele, inicialmente, o homem ficava nu apenas no andar de um prédio. Depois ele conseguia voltar para dentro do apartamento. O argumento que Sabino escreveu é o contrário, porque é um filme, não podia ser uma história curtinha. Então, ele pegou esse homem e o jogou para a rua. Como o filme se passa o tempo todo na rua, ficava muito difícil para eu reconstituir o Rio dos anos 50, a cidade mudou muito em 40 anos. Então trouxemos essa história para os dias atuais, porque nos meus filmes a cidade é personagem. O homem então se torna o inimigo número um, a mídia começa a vendê-lo como um tarado, um terrorista, alguém que estuprou crianças e ataca as pessoas no meio da rua.
Folha - A cidade é sempre muito marcante nas suas produções, em especial o Rio. Por quê?
Carvana - Eu sou muito urbanóide e, como moro e nasci no Rio, acabo fazendo meus filmes no Rio. Já filmei em São Paulo, também. No "Vai Trabalhar, Vagabundo II" existem cenas rodadas em São Paulo, na cidade do México e em Acapulco. Eu procuro as metrópoles. Sou muito mais cronista do que cineasta, então, quando escrevo uma história, não consigo evitar que a cidade e os personagens da cidade estejam retratados. Aliás, o Woody Allen anda me imitando já há alguns anos (risos).
Folha - Você sempre fez comédias. Seus próximos projetos também são nesse estilo?
Carvana - Meu próximo projeto também é uma comédia, é uma idéia desenvolvida por Denise Bandeira e Joaquim Assis chamada "Tempestade Cerebral", também passada no Rio. A diferença é que, dessa vez, quero trabalhar mais com música.
Folha - Do que se trata?
Carvana - De um homem tentando descobrir um pai que ele não sabia que tinha. No processo, eu mostro o Rio dos anos 50 aos 70.
Folha - E não pretende voltar a atuar?
Carvana - Quero continuar atuando. Se em "O Homem Nu" fiz uma pontinha, nesse próximo vou fazer um papel importante. Também tenho uma ligação forte com a TV, sou da Rede Globo, quero produzir para a televisão.
Folha - E quanto a teatro?
Carvana - Não consigo mais fazer teatro. Não faço teatro há 30 anos. É uma lástima, mas não consigo mais. Eu fui me afastando, me afastando... Mas não vou disse que dessa água não mais beberei.

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