São Paulo, sexta-feira, 16 de maio de 1997 |
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'Revólver' mira vazio existencial do homem contemporâneo
DANIELA ROCHA
Escrita por Antônio Rogério Toscano, 24, e dirigida por ele e por Luciana Barone, 21 -ambos recém-formados em artes cênicas pela Universidade de Campinas (Unicamp)-, "Revólver" foi premiada em diversos festivais. Participou em 96 do Festival Universitário de Teatro da USP, que buscava lançar novos talentos. A ousadia parte de uma série de elementos que são levados ao espetáculo: os personagens "pop" Jesus -um junkie homossexual viciado em drogas pesadas- e Madalena -uma prostituta de luxo que se traveste de diva hollywoodiana-, a trilha pop -com músicas de Lou Reed tocadas ao vivo, com o músico em cena-, narrativa não-linear, universo urbano e temática em torno do vazio existencial do homem contemporâneo. Toscano trabalha em busca de uma pesquisa dramatúrgica própria, "de ponta". "A linguagem está longe de ser redonda, aristotélica. Ela é específica, mas tem rigor técnico e formal. Acho que a experimentação é sempre elogiável. Não quero repetir fórmulas." "Revólver" é o resultado de dois anos de pesquisa que busca delinear o caminho do grupo, o NT2aM (Novo Testamento Segundo a Morfina). O texto apresenta os personagens Jesus e Madalena, com seus sentimentos contaminados. "Nesta montagem, não há realismo -beijar pode ser um ato agressivo", disse Toscano. No processo desse trabalho, a interpretação acrescentou dados ao texto. "A montagem é resultado da interpretação", afirmou. O espetáculo é dividido em três cenas. "São três momentos diferentes na vida da Madalena que transparecem não apenas na personagem, mas também na maneira como ela se compõe em cena", disse Luciana Barone. Em um primeiro momento, Madalena é a Gilda de Rita Hayworth, no segundo, é Marilyn Monroe, e, por último, é Mia, personagem de Uma Thurman em "Pulp Fiction". "A idéia é de a Madalena se travestir de grandes prostitutas da mídia", disse a diretora. Enquanto isso, as transformações de Jesus acontecem por meio de suas alucinações com drogas pesadas. "É um casal que vive junto por interesses, como dinheiro e drogas. Eles não se suportam, mas um não pode viver sem o outro. Enquanto ela é sensual e capaz de ter vários homens, ao mesmo tempo não admite que ele, homossexual, leve homens para casa e não dê a mínima para ela. É uma relação de proximidade e de repulsa." A única saída para suas carências é canalizada em meninos e meninas que eles raptam e assassinam por diversão -mas que viram motivo de desavenças logo que eles começam a se apegar às crianças. "Revólver" indica que uma saída deve existir, mas instiga porque não revela a sua direção. (DR) Peça: Revólver - O Novo Testamento Segundo a Morfina Autor: Antônio Rogério Toscano Direção: Luciana Barone e Antônio Rogério Toscano Com: Rita Wirtti e João André Onde: Funarte - sala Guiomar Novaes (al. Nothmann, 1.058, Campos Elíseos, tel. 011/862-5177) Quando: estréia hoje, às 21h; sexta e sábado, às 21h, e domingo, às 20h; até 1º de junho Quanto: R$ 10 Texto Anterior: 'Dorotéia' nasce da chanchada e tragédia Próximo Texto: Barueri sedia festival de bonecos Índice |
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