São Paulo, sexta-feira, 16 de maio de 1997 |
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'Dorotéia' nasce da chanchada e tragédia
DANIELA ROCHA
Desta vez, chega a São Paulo uma montagem que não é nova -estreou em 96- e que se diz nacional -diretores de Brasília, atrizes do Rio e figurinista do Ceará-, mas que leva ao pé da letra o que pede o autor: busca o equilíbrio entre a chanchada e a tragédia, segundo a protagonista e produtora Denise Milfont. "É uma peça maldita que tem um texto perfeito, que não precisa de cortes e que deve ser encenada como se estivéssemos interpretando uma partitura. Ela tem musicalidade", disse. Escrita por Nelson Rodrigues em 1949 -para a cantora lírica Eleonor Bruno-, foi encenada pela primeira vez no TBC em 1950, mas a montagem fracassou. Agora, a produtora buscou os diretores Adriano Guimarães, Fernando Guimarães e Hugo Rodas para chegar à farsa. "Só três dariam o equilíbrio." "É a peça mais louca de Nelson Rodrigues. É uma peça em que ele devaneia, ele é irresponsável em sua loucura. Ao mesmo tempo, é sutil e forte, mas não há nada de grotesco. Nelson é como um voyeur: ele olha pelo buraco da fechadura, mas o que vê é o que está em nosso inconsciente." Dorotéia é uma prostituta que, para se redimir da vida que levava e da morte de seu filho, volta para casa, para a família. Ali vivem suas primas, "mulheres que jamais dormiram para não sonharem", mulheres feias, amargas, magras e puras. Todas têm defeito de visão devido a uma maldição da avó, uma mulher que se casou com o homem que não amava e ficou com náusea na sua noite de núpcias. A náusea virou herança das primas. Enquanto as primas não enxergavam, Dorotéia era a única que via os homens e ficava com eles. "Para se tornar casta e voltar a integrar a família, ela tem que se tornar feia e, ao mesmo tempo, vive a dualidade de ser o que é: uma mulher bonita, atraente e que enxerga os homens. Sua posição está no limiar do querer e não querer se purificar", afirmou Denise. A peça é permeada de símbolos: a botina representa o homem, o noivo; o jarro que persegue as personagens nada mais é do que o desejo sexual delas. "Aí entra o surrealismo. Com esses elementos, a peça se torna uma partitura musical em que não é possível sair do tom." Peça: Dorotéia - Uma Farsa Irresponsável Autor: Nelson Rodrigues Direção: Adriano Guimarães, Fernando Guimarães e Hugo Rodas Com: Denise Milfont, Nádia Carvalho Onde: teatro João Caetano (r. Borges Lagoa, 650, tel. 011/573-3774) Quando: estréia hoje, às 21h; sex e sáb, às 21h, dom, às 19h. Até 22 de junho Quanto: R$ 10 Texto Anterior: Hughes vê a arte como um perpétuo recomeçar Próximo Texto: 'Revólver' mira vazio existencial do homem contemporâneo Índice |
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