São Paulo, sexta-feira, 16 de maio de 1997
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'Um Deus Cruel' apresenta Guzik, o dramaturgo

ERIKA SALLUM
DA REDAÇÃO

Após 48 anos envolvido com teatro, seja trabalhando como ator, professor, jornalista ou crítico, Alberto Guzik experimenta agora uma nova sensação: a de ser dramaturgo.
Com direção de Alexandre Stockler, estréia hoje no teatro Arthur Azevedo, em São Paulo, a peça "Um Deus Cruel", exibida somente uma vez no Festival de Curitiba deste ano.
Apaixonado por teatro desde a infância -era daqueles que falsificava R.G. para entrar em espetáculos para maiores-, Guzik sempre abominou a função de teatrólogo: "Teatro é muito difícil, é a síntese radical da obra, o aparo de tudo o que não é 'notícia'", disse, fazendo analogias com o jornalismo.
Até que "um jovem e talentoso diretor" (Stockler), segundo suas próprias palavras, juntamente com a atriz Alexandra Golik, pediu-lhe para escrever uma peça -solicitação que acabou se transformando em "Um Deus Cruel".
O texto aborda cerca de 12 anos da vida de uma companhia teatral, a Trupe das Ilusões Perdidas, com suas alegrias, brigas, ciúme, frustrações etc. Questões como Aids, morte e valores sociais vão sendo discutidas e analisadas em meio aos acontecimentos.
Missão cumprida Para o Guzik, não importa o tema a ser colocado em cena, contanto que o espetáculo cumpra aquilo que se propôs fazer.
"Teatro quando é bom, não tem coisa melhor; quando é ruim, não tem pior", brinca, repetindo uma frase de sua peça.
Para quem espera assistir, a partir desta noite, a uma espécie de "grande teoria do crítico", Guzik avisa: "Essa peça não é o meu testamento. É algo para o espectador comum, que eu também sou".
Em "Um Deus Cruel", o recém-dramaturgo afirma que encontrou seu próprio estilo: frases curtas, com exercícios breves e bem encadeados.
Ao entregar o texto para a montagem, ele deu carta branca a Stockler, numa parceria que se revelou bastante harmoniosa. "Não houve confronto. Em nenhum momento, o Alexandre cortou trechos que eu não não aprovasse, e vice-versa."
O público paulistano verá uma montagem um pouco diferente da apresentada em Curitiba. "Suprimimos o que não funcionava no palco", conta o diretor.
Stockler, responsável pela direção de "Woyzeck" (1995) e "Na Selva das Cidades" (1996), entre outras montagens, revela que, no início, encontrou dificuldade para sustentar o realismo, "e até certo ponto, naturalismo", que o texto exigia.
"Hoje, é muito mais fácil fingir que se está segurando um copo do que ter um copo de verdade nas mãos", afirma o diretor.
Com os ensaios -que foram acompanhados de perto por Guzik-, Stockler foi se familiarizando com o estilo, a ponto de introduzir brincadeiras cênicas na montagem.
As cenas dos personagens coadjuvantes apresentam estilos teatrais diversos, que perpassam a farsa, o drama, o teatro físico, alegórico, de bonecos.
"No começo, os atores acharam muito difícil, depois se acostumaram. Na verdade, isso tudo é uma grande brincadeira", explica o jovem diretor.

Peça: Um Deus Cruel
Autor: Alberto Guzik
Direção: Alexandre Stockler
Com: Alexandra Golik, Raul Figueiredo, André Boll e outros
Onde: teatro Arthur de Azevedo (av. Paes de Barros, 955, tel. 011/292-8007) Quando: de quinta a sábado, às 21h; domingo, às 20h
Quanto: R$ 8

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