São Paulo, sexta-feira, 16 de maio de 1997
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ALÉM DA COMPRA DE VOTOS

Reações de políticos situacionistas às denúncias de compra de votos revelaram por vezes desfaçatez, conivência espiritual com o baixo padrão moral das negociações políticas no Congresso ou, pelo menos, manifesta tolerância em relação à falta de caráter político de certos parlamentares e suas práticas venais.
Os indícios mais fortes de corrupção atingem dois deputados, mas a resposta de políticos influentes às revelações desta Folha delineia um quadro mais amplo de leniência em relação à falta de ética. Amostras dessa atitude vieram de parlamentares em posição de liderança.
O presidente do PFL, deputado José Jorge, deu exemplo do que considera o "limite da ética". Para ele, a compra de votos seria condenável; a chantagem por meio de requisição de cargos e de liberação pontual de verbas constitui recurso legítimo. Convicções políticas e respeito à racionalidade do Orçamento não entram na pauta de preocupações do deputado que preside a maior agremiação de apoio ao governo. Mencione-se ainda que esse mesmo PFL já expulsou sumariamente dois deputados envolvidos no escândalo. De onde viria essa enorme certeza sobre a venalidade desses parlamentares?
O secretário-geral do partido do presidente, deputado Arthur Virgílio, por sua vez, propunha, antes de saber do escândalo, que era preciso dar um "trambique cívico" nos deputados que teriam recebido favores para votar a emenda da reeleição. Depreende-se, pois, que pelo menos um político da cúpula do PSDB admite que houve negociações condenáveis para aprovar a reeleição.
De resto, as cúpulas do PSDB e do PFL pressionam seus parlamentares para que boicotem, não a instalação de uma Comissão Parlamentar de Inquérito, mas a própria iniciativa de discutir a necessidade dela no plenário da Câmara. Por que o medo?
Ao que tudo indica, uma eventual -e necessária- CPI sobre o caso teria muito mais a descobrir do que a compra do voto de cinco deputados.

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