São Paulo, sexta-feira, 16 de maio de 1997
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POLÍTICA MENOR

A polêmica em torno da direção da Suframa (Superintendência da Zona Franca de Manaus) dá bem a medida dos métodos condenáveis de fazer política no Brasil.
Apesar das dúvidas sobre a validade da própria existência de uma Zona Franca no Brasil, parece evidente que a direção do órgão deveria estar a cargo de um técnico e não de um apaniguado de políticos locais.
Infelizmente, porém, não é o que pode vir a ocorrer. O próprio ministro do Planejamento, Antonio Kandir, afirmou que, "no futuro", a direção da Suframa obedecerá a critérios técnicos. Pergunta-se: e no presente? É aceitável que a direção da Suframa se submeta a interesses menores de políticos locais?
Essa situação esdrúxula fica ainda mais nítida quando se considera que o atual diretor do órgão, Mauro Ricardo Machado Costa, vem fazendo um trabalho pautado, ao que parece, pela racionalidade administrativa e politicamente saneador, tendo, inclusive, demitido 70 funcionários supostamente fantasmas, aí incluídos a irmã e uma sobrinha do governador do Estado, Amazonino Mendes (PFL). Essa atitude pode ser uma das razões pelas quais tem havido pressões para retirar Costa do cargo.
Seria uma tremenda ingenuidade tentar negar a importância do controle da Suframa para a política amazonense. Mas é preciso reconhecer que o Brasil, infelizmente, ainda não desenvolveu a necessária cultura de separar cargos eminentemente técnicos (ainda que com influência política) daqueles puramente políticos; ademais, os incentivos fiscais concedidos à economia da região pesam numa conta que é paga pelos cidadãos de todo o país.
Mudanças na cultura política nacional, ainda que reconhecendo as dificuldades a ela intrínsecas, não deveriam jamais ser consideradas, ainda mais por uma alta autoridade do governo, como uma tarefa para o futuro, mas para já. O risco é que se perpetuem essas práticas da política pequena que tanto mal causam à nação.

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