São Paulo, domingo, 18 de maio de 1997 |
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Pivô de escândalo aposta em contradições
SILVANA DE FREITAS
Pivô do escândalo do Orçamento, em 1993, ele está preso desde outubro daquele ano e a sua defesa já está pronta para ser aplicada no julgamento. O economista não quis esperar em liberdade pela decisão da Justiça por ter medo de ser morto antes da sentença, segundo seu advogado, Joaquim Flávio Spíndola. Complô Santos, que nunca confessou o crime, sugere estar sendo vítima de um complô montado por parlamentares que perderam o mandato, em consequência das denúncias que fez de corrupção. Ele também acusa a polícia de omissão na apuração dessas ameaças. Uma evidência dessa omissão seria o fato de nunca ter sido apurada a informação do primeiro advogado de Santos, José Gerardo Grossi, sobre proposta feita pelo emissário de um ex-parlamentar envolvido no esquema de liberação de verbas. O emissário teria oferecido US$ 1 milhão a Grossi para que Santos mudasse a versão da denúncia sobre o esquema de corrupção no Orçamento. A defesa cita ainda suposta omissão da Delegacia de Homicídios de Brasília, que, no auge das denúncias sobre corrupção no Orçamento, não teria perguntado ao detetive Lindauro da Silva, assassino confesso de Lofrano, os nomes dos três deputados para os quais teria trabalhado. Segundo o dossiê da defesa, com 293 páginas, Lindauro disse ter sido contratado durante pouco mais de dois anos pelo frigorífico Fribusa, que pertenceria a três deputados. Teria trabalhado na casa desses parlamentares. Inocência A versão de Santos é de que não participou do crime, em novembro de 1992. Mas ele não nega que no ano anterior contratou o detetive Lindauro da Silva para investigar os passos de sua amante, Crislene. O economista tentará provar contradições como o fato de Lindauro afirmar desconhecer que Santos era assessor de parlamentares e até mesmo o local de trabalho: a subsecretaria de Orçamento da Assessoria do Senado, um dos ninhos do escândalo. Segundo Joaquim Spíndola, o detetive teria presenciado inúmeros telefonemas de parlamentares ao celular de seu cliente, e familiares de Lindauro teriam confirmado em depoimento que ele sabia que o economista José Carlos Alves dos Santos trabalhava no Senado. Incoerência Outra incoerência apontada pelos advogados e que a defesa do economista quer explorar é a diferença entre as reconstituições do crime, feitas pela polícia com base nos relatos de Lindauro e Valdei José de Souza, o outro assassino confesso. Lindauro reproduziu a cena da execução descrevendo Ana Elizabeth deitada, coberta com lençol e capuz, no momento em que ele teria dado o primeiro golpe de picareta -instrumento usado no crime. A cena relatada por Valdei, também na hora do primeiro golpe, é a seguinte: ela estaria ajoelhada e amordaçada, sem lençol e capuz. Planaltina José Carlos Alves dos Santos vai ser julgado pelo Tribunal do Júri de Planaltina, cidade-satélite de Brasília, em data a ser marcada. O julgamento deve demorar mais de um dia. A acusação é de homicídio qualificado, para o qual o Código Penal prevê pena de 12 a 30 anos de prisão. O processo tem 19 volumes e 18 apensos, somando mais de 6.000 páginas. Lindauro da Silva e Valdei José de Souza já estão cumprindo pena de prisão. Foram condenados respectivamente a 21 e 19 anos. A defesa de Santos pretende explorar um princípio do direito criminal de que ninguém pode ser condenado sem a prova absoluta e vai contestar tese sobre crime passional, caso o Ministério Público a sustente. Spíndola afirma que essa tese é "inconsistente", por causa do comportamento sexual de Crislene, a amante, com quem Santos participava de orgias sexuais. Isso afastaria a motivação para o crime. "É inadmissível que uma pessoa vá viver com alguém que divida na cama com outros homens", diz. Todos os outros processos em que Santos foi envolvido -entre eles corrupção e lavagem de dinheiro falso- estão arquivados. Texto Anterior: "Videoteca Folha" será lançada dia 25 Próximo Texto: Presos se rebelam e fazem 6 reféns no ES Índice |
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