São Paulo, domingo, 18 de maio de 1997
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Presidente de comissão diz que só CPI poderá chegar aos corruptores

DANIEL BRAMATTI
DA SUCURSAL DE BRASÍLIA

O deputado Severino Cavalcanti (PPB-PE), presidente da comissão de sindicância que investiga a compra de votos para a aprovação da reeleição, acha que os eventuais corruptores só serão investigados com a abertura de uma CPI.
Segundo Cavalcanti, a comissão, ao final dos trabalhos, poderá recomendar a criação de uma CPI, que teria mais poderes para analisar o caso.
"Quando tem corrupto, tem corruptor", afirma.
O deputado, porém, age com cautela. Ressalta que ainda é preciso comprovar a autenticidade das gravações em que os deputados Ronivon Santiago e João Maia, ambos do Acre, afirmam ter recebido dinheiro em troca dos votos a favor da reeleição.
Em caso de comprovação, "a coisa muda de figura e é muito grave", afirma. Ao ser perguntado sobre a possibilidade de criação de CPI, responde: "Não tenha dúvida nenhuma". A seguir, os principais trechos da entrevista concedida por telefone à Folha:
*
Folha - Como o senhor interpretou a decisão do ministro Sérgio Motta de não comparecer à comissão?
Severino Cavalcanti - É um problema de foro íntimo. Gostaríamos que ele tivesse vindo para esclarecer algumas dúvidas. Ele poderia trazer dados que pudessem deixar a comissão mais à vontade para analisar o caso.
Nós não temos lá nenhuma prevenção contra ninguém. Só queremos chegar à verdade.
Folha - É possível chegar à verdade sem ouvir o ministro e os governadores Amazonino Mendes e Orleir Camelli, citados nas fitas como fonte dos recursos?
Cavalcanti - Na segunda-feira, o governador do Acre deve entrar em contato para dar algumas informações. Ele tem de ser ouvido pessoalmente.
E se o ministro diz que não tem esclarecimentos para dar à comissão, a comissão fica à vontade para decidir sobre o que houver na fita com relação a ele.
Folha - O fato de a comissão não ter poderes legais para convocar o ministro é uma barreira?
Cavalcanti - Acho que ela deveria ter maior plenitude. Seria muito importante se nós tivéssemos poder para mandar.
Folha - Uma CPI, com os poderes que tem, não teria condições de aprofundar as investigações?
Cavalcanti - É evidente que uma CPI teria muito mais poder.
Folha - Nas conclusões da comissão, pode haver a recomendação de que se crie uma CPI para aprofundar a investigação?
Cavalcanti - Pode. O relator (deputado Ibrahim Abi-Ackel/PPB-MG) é quem vai dizer.
Folha - Com base nas transcrições feitas pela Folha, a que conclusão o sr. chega?
Cavalcanti - Se a gravação não coincidir com a voz dos dois parlamentares, aí estará tudo prejudicado.
Não haverá nenhuma comprovação. Se coincidir e se tiver alguma coisa de palpável, então vamos encaminhar a coisa para frente.
Folha - O que acontecerá se a perícia comprovar a veracidade das transcrições?
Cavalcanti - Aí a coisa muda de figura e é muito grave.
Folha - E poderá desembocar numa CPI?
Cavalcanti - Não tenha dúvida nenhuma.
Folha - É a única maneira de chegar aos corruptores?
Cavalcanti - Exatamente.

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