São Paulo, domingo, 18 de maio de 1997
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Plano de retirada

JANIO DE FREITAS

Além de se recusar a submeter-se ao interrogatório da sindicância na Câmara, Sérgio Motta está na iminência de viajar para a Europa e sem data certa para o retorno, segundo a "solução" comunicada por Fernando Henrique Cardoso a eminências do PFL. O pretexto de viagem oficial, como planejado, não é suficiente para acobertar a retirada repentina, sendo Sérgio Motta o objeto da mais grave denúncia presente nas fitas sobre compra de deputados para aprovar o projeto de reeleição.
Não há qualquer tarefa urgente a ser cumprida no exterior por Sérgio Motta. À margem da fanfarronice de que "não tem medo de enfrentar nenhum tipo de averiguação ou inquérito", já desmoralizada pela recusa de encarar perguntas até numa comissão controlada por seus aliados, Sérgio Motta tem o dever (não diria o dever moral, claro) que a lei cobra de todos os ocupantes de funções públicas.
Massacrados pelos companheiros e pelos sócios, que pretendiam com isso sufocar as evidências da corrupção em torno do projeto reeleitoral, os deputados figurantes na denúncia gravada não fugiram, submetendo-se às investigações e aos interrogatórios. A alegação de Sérgio Motta de que "não tem o que discutir porque não existem acusações, não existem fatos", é masturbação fugitiva. As gravações são factuais e o que nelas se refere a Sérgio Motta é a descrição de fatos em que aparece como autor de corrupção, tanto no uso de dinheiro de origem desconhecida, como no uso de bem público.
É uma situação excepcional em que Sérgio Motta não deve pôr a mão na mala.
Os piores ronivons
Um dos vários efeitos positivos do atual escândalo é possibilitar a identificação pública, muito mais do que nos escândalos anteriores, dos coniventes com as bandalheiras nacionais e, como tais, maiores garantidores da impunidade que situa a administração brasileira como a mais corrupta do mundo, entre os "países emergentes".
Do presidente da República ao deputado mais rastaquera, todos os que exigem investigações rigorosas, mas estão agindo por todos os meios para impedir que uma CPI as faça, são os mesmos, rigorosamente os mesmos, que têm impedido todas as CPIs que poderiam pegar as altas figuras da alta corrupção política e governamental.
São os mesmos que defenderam Collor e, portanto, o esquema Collor/PC, por atos e por declarações ou, como Fernando Henrique fez à época, por omissão pública e ação nos gabinetes e corredores (inclusive, no PSDB, contra Mário Covas e sua persistência anti-Collor).
São os mesmos que não puderam evitar o número de assinaturas para a CPI das Empreiteiras, mas impediram que fosse instalada. À frente da proteção ao maior sistema de corrupção empresarial do país, os que eram então e hoje continuam sendo os líderes dos fraternos PSDB e PFL.
São os mesmos que não conseguindo, outra vez, impedir o apoio necessário para uma CPI sobre o financiamento das campanhas eleitorais, tornaram inviável a sua instalação. No comando da operação, os peessedebistas e pefelistas de sempre.
São os mesmos que lançaram mão de todos os recursos para impedir que se instalasse a também aprovada CPI do Sistema Financeiro.
Hoje com cargo no governo ou ainda no Congresso, são os mesmos de sempre a proteger e alimentar com a impunidade os sistemas da corrupção. É daí que se irradiam a corrupção que vai até as polícias, ao baixo funcionalismo, e a impunidade que nos devorou toda a segurança.
São os mesmos: você sabe quem são.

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