São Paulo, domingo, 18 de maio de 1997
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Inversão térmica concentra os poluentes

MARCOS PIVETTA
DA REPORTAGEM LOCAL

A previsão de um inverno com poucas chuvas e frio moderado indica que a poluição na cidade de São Paulo será agravada nos próximos meses.
"Trabalhamos com a expectativa de que este inverno será um pouco pior do que o do ano passado", disse Claudio Alonso, gerente de qualidade ambiental da Cetesb. "Teremos um típico inverno paulistano, talvez um pouco mais seco do que o usual."
Para uma cidade tão poluída como São Paulo, o ideal era que não houvesse inverno, pelo menos do ponto de vista ambiental.
A estação virou sinônimo de graves problemas de poluição, tanto que a cidade deverá tentar mais uma vez reduzir seus índices de poluentes no ar com um novo rodízio de carros no inverno.
A Cetesb estima que a fumaça lançada pelos carros responda por 90% dos poluentes atmosféricos da Grande São Paulo.
O grande vilão do inverno paulistano é o fenômeno climático chamado inversão térmica, que dificulta a circulação de ar na cidade e a dispersão dos poluentes.
No inverno, a inversão, que ocorre durante todo o ano, aumenta de frequência e intensidade e ocorre mais perto do solo do que em outras épocas do ano.
Como chove e venta pouco no inverno, o fenômeno se instala mais facilmente em São Paulo nesta época do ano.
A inversão ocorre quando uma camada de ar frio, mais pesada e sem tendência natural a subir, é sobreposta por uma de ar quente.
O ar da cidade fica então parado e os poluentes não ascendem. Um grande vento ou uma boa chuva são ótimos para dispersar os poluentes.
Em casos extremos, a inversão pode se dar ao nível do solo, mantendo os poluentes muito próximos das fontes da emissão.
Se a chuva do inverno ficar próxima da média histórica da estação (pouco mais de 50 mm em junho e cerca de 40 mm em julho e agosto), como prevê o Inpe, os paulistanos terão três meses de poucas chuvas.
Para ter uma idéia do pouco chove no inverno, bastar olha a chuva média de apenas um mês do verão. Em janeiro, chove normalmente 240 mm.
A escassez de chuvas em São Paulo, desde março até agora, não é um prenúncio de que o inverno também será extremamente seco, disseram os meteorologistas.
Previsões
Todas as previsões sobre o que vai acontecer com o clima da cidade de São Paulo no inverno contêm um certo grau de fragilidade.
Os meteorologistas, sempre criticados quando erram a previsão do tempo para o dia seguinte, são os primeiros a reconhecer isto.
"Fazer previsões de longo prazo sobre como vai ser o clima no Sudeste é sempre problemático", afirmou o meteorologista Pedro Leite da Silva Dias, da USP.
"Não temos domínio sobre todos os fenômenos que influenciam o inverno em São Paulo."
Os meteorologistas elencam uma série de fatores que influenciam o clima da cidade. Há fatores locais, como a proximidade do mar e de serras e o excesso de urbanização da cidade (concreto e asfalto).
Há também aspectos remotos que condicionam o clima da cidade. Um dos mais conhecidos são as massas de ar polar, que trazem frio e chuvas para o país.
Outros fenômenos climáticos globais, como o El Niño (aquecimento anormal das águas do oceano Pacífico), influenciam o clima de São Paulo.
Em ano de El Niño forte, chove mais na cidade. "Este ano, não há El Niño", disse Gilvan Sampaio de Oliveira, meteorologista do do Cptec do Inpe.
(MP)

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