São Paulo, domingo, 18 de maio de 1997
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SP pode passar inverno com torneira seca

FABIO SCHIVARTCHE
DA REPORTAGEM LOCAL

A estiagem das últimas semanas na Grande São Paulo e a falta de chuvas nesse ano na região podem comprometer o abastecimento de água na capital no final do inverno, dizem especialistas em hidrologia consultados pela Folha.
O reservatório Cantareira (na zona norte), responsável pelo abastecimento de água de 55% da cidade de São Paulo, não recebeu chuva nos primeiros 15 dias de maio. A média histórica de chuvas para o mês no Cantareira é de 100 mm de coluna de água.
Na represa de Guarapiranga (na zona sul), o segundo maior reservatório (abastece 19% da cidade), as chuvas desse mês contribuíram com apenas 1 mm -a média histórica de maio é de 61,4 mm.
Apesar de os reservatórios estarem com níveis altos -Cantareira com 82,4% de sua capacidade total (638 milhões de metros cúbicos de água) e Guarapiranga com 65,5%- especialistas afirmam que a situação é preocupante.
"Se a estiagem se prolongar mais, podemos ter dificuldades no abastecimento no final do inverno", diz o professor de Hidrologia do departamento de Geografia da USP (Universidade de São Paulo), João Cipriano de Freitas.
Motivos
Ele explica que as massas de ar úmidas que trazem as chuvas estão sendo barradas na Serra do Mar. Assim, a cidade fica com o céu encoberto, mas sem chuvas.
A cidade viveu situação semelhante em 1994, quando cinco milhões de paulistanos enfrentaram racionamento por quase dois meses (leia texto nesta página).
O professor titular de Hidráulica da Faculdade de Engenharia Civil da Unicamp (Universidade Estadual de Campinas), Edmundo Koelle, diz que a estiagem prolongada é anormal, mas possível de acontecer.
"Se a falta de chuva continuar, os reservatórios vão se esvaziar mais rapidamente do que é possível repor com manobras operacionais da Sabesp (estatal responsável pelo abastecimento de água no Estado). Daí, o problema vai atingir a população com o racionamento e campanhas para economizar água", diz Koelle.
Segundo ele, há outros fatores que explicam o drama da falta de água na região metropolitana de São Paulo. "O Estado não investiu em saneamento e abastecimento na década de 80 e agora, com o crescimento da população e aumento da demanda, o paulistano está sofrendo as consequências."
Hoje, a Sabesp opera com déficit. Enquanto a demanda varia entre 66 e 69 metros cúbicos de água por segundo, a produção está em apenas 60 metros cúbicos. Cerca de 730 mil pessoas vivem sob rodízio permanente na região metropolitana -em 94 eram 4,5 milhões de pessoas.
O governo do Estado está implantando um programa que prevê o abastecimento de 100% da população atendida até o final do próximo ano, com um aumento da oferta de 9 metros cúbicos por segundo.
O vice-presidente metropolitano de distribuição da estatal, Antônio Marsiglia Neto, afirma que a possibilidade de novo racionamento este ano é pequena.
"Estamos com índices de chuvas bem abaixo das médias históricas, mas ainda não há previsão de falta de água, já que no inverno o consumo cai cerca de 20%", diz.

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