São Paulo, domingo, 18 de maio de 1997
Texto Anterior | Próximo Texto | Índice

Menem faz acordo trabalhista com CGT

FERNANDO GODINHO
DE BUENOS AIRES

As eleições parlamentares do próximo mês de outubro estão influenciando as discussões sobre a reforma da legislação trabalhista na Argentina.
Para tentar atrair o apoio dos trabalhadores aos candidatos governistas, o presidente Carlos Menem patrocinou um acordo com a CGT (Confederação Geral dos Trabalhadores, a maior central sindical da Argentina) exatamente na direção contrária ao que estava sendo discutido até o final do ano passado.
As entidades empresariais do país estão contra o acordo, negociado pelo ministro do Trabalho, Armando Caro Figueroa, pelo chefe de Gabinete de Menem, Jorge Rodríguez, e pelo secretário-geral da Confederação Geral dos Trabalhadores, Rodolfo Daer.
O acordo determina o fim dos contratos temporários motivados (menos custosos para o empregador), a criação de um seguro-desemprego custeado pela empresa e pelo governo e a negociação salarial concentrada nos grandes sindicatos.
Além disso, não quebra o monopólio dos sindicatos no setor de assistência médica e ainda prevê a votação de uma lei que obrigará as empresas a apresentar dados financeiros e contábeis durante uma negociação salarial.
"Chegamos a esse acordo por que é um ano eleitoral", reconheceu à Folha o dirigente da CGT, Rodolfo Daer.
"Duvido que o governo do presidente Menem tenha firmado esse pacto por convicção", afirmou o sindicalista.
O governo federal vem enfrentando protestos de trabalhadores por causa do grande número de desempregados existentes na Argentina.
Só na Grande Buenos Aires (capital federal e mais 19 subúrbios), o número de desempregados atingiu seu maior índice em outubro do ano passado -segundo dados mais recentes divulgados pelo Indec (Instituto Nacional de Estatística e Censo).
São 975 mil pessoas sem emprego (ou 18,8% da População Economicamente Ativa da região), o que significa um crescimento de 1,4% em relação a outubro de 1995.
O Instituto Nacional de Estatística e Censo também divulgou que existem 3,2 milhões de pobres na Grande Buenos Aires -ou 28% de toda a população da capital argentina.
Protestos
"O governo retrocedeu em relação ao que estava sendo negociado no final do ano passado", avalia o economista Daniel Funes de Rioja, principal assessor da UIA -União Industrial Argentina, o equivalente argentino para a Fiesp- para questões trabalhistas.
Assim que o acordo foi anunciado, a UIA emitiu uma nota oficial protestando contra as negociações.
Avaliação
O Ministério da Economia, que ficou de fora das negociações, também não fez uma avaliação positiva do acordo.
"Não gostaria de um acordo que deixasse de fora os empresários", afirmou o ministro Roque Fernández (Economia) em uma recente entrevista para a TV, demonstrando sua insatisfação com o rumo das negociações.
Os empresários argentinos tentarão reverter o acordo firmado pelo governo federal com os trabalhadores ainda nesta semana, antes que o texto seja encaminhado para a apreciação e votação do Congresso.
A contraproposta dos empresários será levada ao governo pelo Grupo dos Oito (que reúne, entre outros, representantes da indústria, do comércio, da agricultura e do setor financeiro).
Uma primeira reunião entre os empresários e o governo aconteceu na quinta-feira passada.
Não houve, porém, nenhum resultado concreto. A CGT não participou desse encontro.

Texto Anterior: Contrate uma consultoria para decoração
Próximo Texto: A polêmica trabalhista na Argentina
Índice


Clique aqui para deixar comentários e sugestões para o ombudsman.


Copyright Empresa Folha da Manhã S/A. Todos os direitos reservados. É proibida a reprodução do conteúdo desta página em qualquer meio de comunicação, eletrônico ou impresso, sem autorização escrita da Folhapress.