São Paulo, domingo, 18 de maio de 1997
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Corinthians e Palmeiras são como Abel e Caim

ALBERTO HELENA JR.
DA EQUIPE DE ARTICULISTAS

Fico pensando se não são as semelhanças que tornaram, ao longo da história, Palmeiras e Corinthians tão rivais. Ambos foram tipicamente clubes de colônia, desde que nasceram. O Corinthians, com forte sotaque castelhano; o Palmeiras, italiano, de nome e sobrenome -Palestra Itália.
Nos bastidores, a sangria e o chianti se incumbiam de elevar o colesterol de ambos a níveis apopléticos, mesmo depois que se transformassem em gigantescos ímãs para torcedores de todas as procedências, credos e etnias. No campo, autênticos campeões que amargaram longas filas no deserto de títulos, em tempos diversos. O Corinthians, chegou a somar 23 anos, e o Palmeiras, 16, em épocas relativamente recentes.
E nem assim os inimigos comuns conseguiram alcançá-los na marca de conquistas domésticas que dividem fraternamente (afinal, Caim e Abel eram irmãos): 21 vezes campeão paulista cada um.
Ei-los hoje novamente disputando o primeiro lugar desta fase do campeonato, que vale significativa vantagem para o quadrangular decisivo. E aí estão, ambos, vivendo dramas similares.
Pioneiros na aventura da modernização, cada qual associando-se a um poderoso grupo econômico, o que lhes deu reais condições de sonhar com Tóquio e adjacências, agarram-se ao velho e surrado Paulistão, despachados que foram, na mesma semana, da Copa do Brasil.
No Parque São Jorge, o escândalo da CBF plantou o fantasma da deposição de seu presidente Dualib; no Parque Antarctica, a cisão provocada pela reeleição de Mustafá resultou num esfriamento nas relações com o patrocinador e a perda dos prestimosos serviços de Brunoro, o engenheiro-chefe da sutil montagem de interesses comuns entre Palmeiras e Parmalat.
No campo, ambos, depois de um instante de fulgor, experimentam fase de declínio às vésperas da disputa do título.
No percurso do campeonato, este domingo marca o fim de uma fase. Na história desses dois campeões, por certo, haverá de ser o recomeço.
*
Então, ficamos assim: o único que nada tinha com o peixe -o juiz Godoi, que o próprio Ivens Mendes chamou de "unha de cavalo", eufemismo para que é duro de se dobrar- é que foi depor no Tribunal.
No mesmo dia, um golpe de mão dissolve a subcomissão parlamentar. Cria-se uma comissão que passa a ser presidida por Eurico Miranda.
A pizza já está assando no forno. Quem quer um teco?
*
Por fim, vem aí a Lei Pelé, aquela que, aparentemente, reduz os poderes da CBF, transferindo à liga de clubes o poder de montar seus próprios campeonatos nacionais.
Na prática, a CBF fica com a seleção e a representação junto à Fifa. Isto é: o filé ao ponto, com fritas. E os campeonatos internos, assim como todos os demais pepinos, nas mãos dos clubes, como se assim não fosse hoje em dia e há muito tempo.
E os clubes nas mãos dessa cambada.
Ah, sim, tem a história de transformar os clubes em sociedades anônimas. Quando, não se sabe.
Tá bom.

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