São Paulo, domingo, 18 de maio de 1997
Texto Anterior | Próximo Texto | Índice

Estação Mir expõe crise russa

Programa espacial do país enfrenta dificuldades

RONALDO ROGÉRIO DE FREITAS MOURÃO
ESPECIAL PARA A FOLHA

Durante a 4ª missão à Mir, lançada em 10 de fevereiro de 1997, vários problemas técnicos na estação orbital, projetada para perma necer de três a quatro anos no espaço, mas já há 11 anos em órbita, acabaram expondo a crise por que passa o programa espacial russo. Em março de 1997, uma falha no sistema de oxigenação da nave provocou um pequeno incêndio.
Os astronautas tiveram que ex trair oxigênio queimando artefatos especiais. Outro problema, um defeito no sistema de reciclagem de resíduos orgânicos, provocou uma saturação de excrementos.
Em meados de abril um vazamento de substâncias tóxicas ameaçou a saúde dos três tripulantes da estação russa Mir.
A estação Mir
A terceira geração das estações orbitais soviéticas Mir (Paz) foi lançada a 20 de fevereiro de 1986, de Baikonur, no Cazaquistão, por um foguete Próton. Em 12 de março, a bordo do Soyuz T15, foi colocada no espaço a primeira tripulação da Mir.
A estação russa está dotada dos mais modernos sistemas de abordagem, que compreendem seis dispositivos de acoplamento, com os quais foi possível formar um enorme trem espacial, para usar expressão do pai da astronáutica russa, Konstantin Eduardovitch Tsiolkovski (1857-1935).
Mas, em virtude das dificuldades de realização dos primeiros módulos, a Mir, que deveria estar concluída em meados de 1991, ou seja, cinco anos depois do lançamento do módulo de base colocado em órbita em 1986, só foi concluída em 96, intervalo de tempo superior à vida útil da estação.
A vida útil da Mir deveria ser no máximo de nove anos. Assim, antes que ela viesse a ser desativada, os russos esperavam colocar em órbita, em 1994, o bloco central da nova Mir 2, estação espacial modular de quarta geração.
Com a capacidade de abrigar entre nove a 12 cosmonautas, a nova estação Mir 2, poderia servir de centro industrial para a fabricação de matérias-primas especiais e de produtos biológicos, só possíveis de serem obtidos em microgravidade, bem como servir de base de trabalho para a montagem em órbita do veículo espacial que será lançado com destino ao planeta Marte, no início do século 21.
As dificuldades de ordem econômica na Rússia fizeram com que o projeto Mir 2 fosse cancelado. Um novo projeto surgiu, R-Alpha, e, em seguida ISSA -Estação Espacial Internacional Alpha-, que deverão aproveitar os módulos já construídos da Mir 2.
Fim da URSS
O desaparecimento da União Soviética (URSS) causou uma profunda alteração no sistema espacial em todo o território da antiga república socialista. A Rússia, que herdou a maior parte do potencial espacial nacional, cerca de 80%, criou, em 1992, a RKA, agência destinada a elaborar um programa espacial civil e coordenar as atividades associadas.
O setor espacial constituía, na antiga União Soviética, a jóia do complexo militar-industrial e se caracterizava pela ausência de uma separação nítida entre os domínios civil e militar.
A concepção do sistema era de produzir grande quantidade, às vezes em detrimento da qualidade, dando-se importância secundária aos custos.
As linhas de força técnica resistiam à mecânica e aos materiais. A eletrônica e a informática soviéticas não haviam atingido o nível de qualidade e de sofisticação obtidos pelas indústrias no mundo ocidental. Essa foi uma das razões que levaram os soviéticos a não ousar e jamais enviar sondas aos planetas exteriores, apesar de possuírem foguetes de grande potência.
Segundo alguns estudiosos da astronáutica soviética, além da má administração, esse seria também um dos motivos que conduziram ao fracasso o plano da URSS de enviar uma missão tripulada à superfície lunar.
Na nova organização, a atividade espacial militar da Rússia parecia manter-se em nível operacional quase idêntico ao da ex-URSS: estrutura industrial baseada sempre nos escritórios de estudos (KB), como o KB Proton, ou em firmas, denominadas NPO, que associam, desde 1974, os escritórios de estudos às linhas de produção.
As principais firmas desse tipo são: NPO Energia, responsável pelo programa Mir; a NPO Lavotechkine, especializada nas sondas, nas instrumentações e na microgravidade e a NPO-PM, que se dedica às telecomunicações espaciais.
Na realidade, a crise mundial afetou tanto o programa espacial russo como o dos norte-americanos, que vêm aproveitando uma carona na estação projetada e construída pelos soviéticos. Um reconhecimento indireto e indiscutível dos avanços da URSS na construção das estações espaciais.

Texto Anterior: Antologia é lançada em SP
Próximo Texto: VÍDEO CIENTÍFICO 1; VÍDEO CIENTÍFICO 2; VACINA BRASILEIRA; SAL; PRÓSTATA
Índice


Clique aqui para deixar comentários e sugestões para o ombudsman.


Copyright Empresa Folha da Manhã S/A. Todos os direitos reservados. É proibida a reprodução do conteúdo desta página em qualquer meio de comunicação, eletrônico ou impresso, sem autorização escrita da Folhapress.