São Paulo, domingo, 18 de maio de 1997
Texto Anterior | Próximo Texto | Índice

País quer ser o mais poderoso, diz analista

JAIME SPITZCOVSKY
DE PEQUIM

A permanência do Partido Comunista no poder proporciona uma estabilidade política que favorece investimentos, especialmente os de longo prazo.
O regime chinês traz ainda outra característica que pode atrair o investidor estrangeiro: a centralização do poder elimina os debates exigidos pelos processos democráticos e pode tornar mais rápidas as tomadas de decisões.
A avaliação é do norte-americano Nick Driver, 34, que vive há dez anos na China.
Depois de trabalhar seis anos como jornalista, ele resolveu abrir em Pequim a "Clear Thinking", uma empresa de consultoria para investidores estrangeiros.
Leia os principais trechos da entrevista.(JS)
*
Folha - Quais são as principais diferenças que um investidor estrangeiro, vindo de um país com sistema político democrático, sente ao atuar na China?
Nick Driver - Primeiro, há diferenças com a população. O investidor estrangeiro vai perceber que há muito mais gente do que ele imaginava.
Isso significa que existe uma acirrada competição por poucos recursos. Os chineses, portanto, são muito competitivos e estão entre os melhores empreendedores do mundo.
São excelentes negociadores. Mas eles precisam do investimento estrangeiro, e o investidor muitas vezes tem a impressão inicial de que será fácil arrancar um bom negócio.
Depois de negociar com os chineses, no entanto, a maioria dos investidores percebe que é muito difícil fazer negócio com eles. Os chineses procuram conseguir muito mais do que oferecem.
Folha - E quanto a diferenças que o investidor sente por causa do sistema político chinês?
Driver - Lemos na imprensa ocidental muitas declarações de que a China está entre os países que mais sofrem com a corrupção. Mas, ao contrário de outros países asiáticos, a corrupção aqui atinge principalmente funcionários médios (do governo e do Partido Comunista).
Não existe na China a corrupção em massa, atingindo setores inteiros do poder, em que todos põem a mão no bolso do empresário que pretende fazer negócios.
No campo político, eu ainda recomendo ao investidor estrangeiro lembrar que a China é um país muito orgulhoso.
Embora neguem, os chineses querem que seu país volte a ser a nação mais poderosa do planeta, como foi há mil anos.
Por causa desse sentimento, o investidor nunca deve se esquecer de tratar o chinês com muito respeito.
Folha - Investidores estrangeiros sentem falta de democracia quando atuam na China?
Driver - Para o empresário, pode até ser muito positivo o fato de o processo decisório ser tão centralizado. Não há processos democráticos para a tomada de decisões, mesmo em companhias prevalece uma grande centralização.
Em alguns casos, essa centralização permite até que decisões sejam mais rápidas aqui do que em países ocidentais, quando há muita discussão exigida pelos processos democráticos.
Folha - Alguns analistas dizem que o Partido Comunista, apesar de sua rejeição a reformas políticas, garante o avanço da abertura econômica ao proporcionar estabilidade ao país. O sr. concorda com essa visão?
Driver - Sim. A estabilidade proporcionada pela permanência do Partido Comunista no poder permite que o país ofereça segurança e condições favoráveis aos investidores.
Muito se fala sobre o enfraquecimento do Partido Comunista, e isso realmente está ocorrendo, mas num futuro próximo não vemos uma alternativa ao Partido Comunista.
Por isso, no plano macroeconômico, há muita segurança. Você pode fazer investimentos de longo prazo, sem medo de que o governo caia.

Texto Anterior: Empresários têm medo do PC
Próximo Texto: Como funciona a 'alquimia chinesa'
Índice


Clique aqui para deixar comentários e sugestões para o ombudsman.


Copyright Empresa Folha da Manhã S/A. Todos os direitos reservados. É proibida a reprodução do conteúdo desta página em qualquer meio de comunicação, eletrônico ou impresso, sem autorização escrita da Folhapress.