São Paulo, domingo, 18 de maio de 1997
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Novo governo precisa administrar etnias

DA REDAÇÃO

Um virtual governo com grande participação da minoria tutsi ameaça romper o relativo equilíbrio étnico do Zaire, em que mais de 200 povos convivem em um país criado artificialmente para atender aos interesses coloniais belgas.
Os tutsis, que no Zaire formam um subgrupo chamado banyamulenge, são a maioria dos homens da Aliança das Forças Democráticas para a Libertação do Congo-Zaire, mas um grupo étnico inexpressivo entre os mais de 40 milhões de habitantes do país, o terceiro maior da África.
Os banyamulenges estão no Zaire, na verdade, há menos tempo que os europeus -cerca de 200 anos-, mas levaram para o leste do país os conflitos de outras duas ex-colônias belgas da região, Ruanda e Burundi.
Na África, as fronteiras administrativas não respeitam as etnias. Quando os europeus partilharam o continente, muitas vezes literalmente usando lápis e régua sobre o mapa, não levaram essas sutilezas em conta. No processo de independência dos anos 50-70, os novos países africanos mantiveram essa divisão artificial.
Assim, um tutsi zairense, por exemplo, pode se considerar compatriota de um tutsi de Ruanda, mas estrangeiro em relação, digamos, a um bakongo zairense.
Resultado: dificilmente um país, especialmente na África subsaariana, tem unidade linguística (além de grande parte de seus cidadãos não dominarem as línguas oficiais herdadas dos colonizadores europeus).
Mas, em compensação, alguns idiomas (como o suaíle, no centro e leste do continente) funcionam como língua franca entre povos de várias nações.
No Zaire, o idioma lingala (ou seja, a "língua do rio"), mais do que o francês oficial, tem essa função de laço comum entre todos os moradores, além de ser o idioma adotado pelos militares. A língua é falada nas oito Províncias do país.
As maiores etnias do Zaire são do grupo banto -o mesmo da maioria dos escravos que vieram para o Brasil. São eles os balubas (o grupo de Kabila, com 18,3% da população), os bakongos (16,3%) e o bamongos (13,3%). Nascido no norte, Mobutu Sese Seko, o presidente afastado do poder, é um gbandi.

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