São Paulo, domingo, 18 de maio de 1997
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Sem violência, rebeldes ocupam Kinshasa

RICARDO BONALUME NETO
DO ENVIADO ESPECIAL

Com os soldados do Exército zairense fugindo ou trocando de lado, os rebeldes de Laurent Kabila ocuparam ontem, sem violência, a capital do Zaire, Kinshasa.
A invasão começou pela manhã, na parte leste. À tarde, eles já tinham controle sobre a sede da rádio oficial, a Voz do Zaire, que tambén abriga o Ministério da Informação, e sobre o prédio do Parlamento, ambos na região central.
Antes da chegada rebelde, o premiê Likulia Bolongo chegou a pedir que as tropas voltassem para os quartéis e que os civis ficassem em casa. Horas depois, ele deixou o país em direção ao Congo (leia texto nesta página).
Moradores dos subúrbios do leste da cidade foram às ruas e receberam com festa os guerrilheiros. Um grupo de 100 a 200 pessoas, todas com lenços brancos na cabeça -sinal de apoio à guerrilha- se juntou em frente a um hotel do centro da cidade, cantando slogans pró-Kabila e chamando-o de "libertador".
Os rebeldes, a maior parte aparentando ter menos de 25 anos, entravam em grupos pequenos, vestindo uniformes do Exército. "Esperávamos por isso havia muito tempo", disse um morador do bairro residencial de Lemba.
Perto dali, oficiais e soldados entregavam suas armas aos rebeldes que chegavam ao Campo Salongo Norte. Em pronunciamento, Kabila havia dado ultimato até as 11h (7h de Brasília) para que militares depusessem seus armamentos.
As operações de retirada de estrangeiros não foram postas em prática. França, Bélgica, Reino Unido, Portugal e EUA mobilizaram efetivos militares para a eventual necessidade de transportar seus nacionais de Kinshasa.
Segundo um diplomata francês, "por agora, a segurança dos franceses e dos demais cidadãos estrangeiros não está ameaçada".
Pela manhã, havia temor de combates sangrentos pelo controle da cidade. Tiros foram ouvidos esporadicamente na região central, perto do mercado. Depois revelou-se que eram policiais e civis enfrentando supostos saqueadores. Duas pessoas morreram.
Assassinato
O chefe do Exército e ministro da Defesa do Zaire, Mahele Lieko Bokungu, foi morto na madrugada de ontem, aparentemente por soldado da guarda presidencial, no palácio de Mobutu em Kinshasa.
Segundo diplomatas, ele deveria encontrar Kabila na Zâmbia para organizar a entrega de poder, em acordo mediado pelos EUA.

Com agências internacionais

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