São Paulo, domingo, 18 de maio de 1997
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Portas abertas para a moda

DE PARIS

A moda barroca e teatralizada de Christian Lacroix, em que as rendas, os babados e as flores dão o tom, vai estar disponível em breve em São Paulo.
É o que promete o estilista francês, que diz já ter um projeto para instalar uma loja de sua grife na cidade. A definição depende apenas de acertos finais.
Além do potencial do mercado brasileiro, Lacroix aposta na característica básica de sua grife -que "se inspira na mistura de influências culturais"- para atrair o consumidor brasileiro.
Em entrevista concedida por fax à Revista da Folha, Lacroix também fala sobre o retorno à estética dos anos 80, que deve prevalecer nas próximas estações, relativizada pelo que ele chama de um "toque étnico e colorido".
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Revista - O que o sr. vai mostrar no desfile que será realizado no Brasil?
Christian Lacroix - Vamos apresentar a coleção primavera-verão de 97 de alta costura e as coleções 97/98 de prêt-à-porter e das linhas Bazar e jeans.
Revista - Por que o sr. escolheu o Brasil?
Lacroix - O mercado brasileiro nos parece bastante importante para a grife Christian Lacroix, e nós queremos testar a adequação de nosso estilo, que é feito e inspirado com base na mistura de culturas, ao gosto dos brasileiros.
Revista - Vários estilistas estão abrindo lojas no Brasil. O sr. também tem intenção de investir neste mercado?
Lacroix - É porque sentimos que o mercado brasileiro tende a crescer. Não somos os primeiros e não seremos os últimos. Já temos um projeto para uma butique em São Paulo, mas a data de abertura ainda não foi definida.
Revista - O que o sr. acha da moda dos anos 90, que se inspira no visual dos anos 70? O sr. gosta dessa estética?
Lacroix - Na última estação, a tendência para 98 já começou a se inspirar nos anos 80. As roupas com ombros definidos, as linhas gráficas, o couro, as formas estruturadas, os penteados geométricos e a maquiagem "hard rock". Mas as duas tendências opostas sempre conviveram: o clássico e o barroco, o minimalista e o kitsch. Também percebemos uma certa inspiração colorida, étnica, que vai contrabalançar o rigor desse retorno aos anos 80. Já os anos 70 foram, juntamente com os 60, a época em que eu mais tive prazer de criar meu estilo de adolescência. Mas, por outro lado, não somos atraídos pelas modas que criamos. Então, o retorno às modas recentes, que nós criamos, atinge principalmente os estilistas mais novos. Nós guardamos na memória o mistério das mulheres que nos precederam e para quem olhávamos quando pequenos. Minha geração foi mais influenciada pelos anos 40 e 50. Foi no guarda-roupa de nossos pais e avós e nos brechós que compusemos nossos visuais 70, 75 e 80.
Revista - Quais estilistas influenciaram o sr.? Quais são seus favoritos?
Lacroix - Não há um estilista que tenha me inspirado. Há apenas alguns criadores que admiro e com quem tenho afinidades. Jean-Paul Gaultier, Martin Margiela e Yoji Yamamoto. Quem eu mais admirei se chamava Jules François Craltay. Ele desenhava a coleção de alta-costura para a Lanvin quando comecei a trabalhar como costureiro em 1980.
Revista - Qual o conselho que o sr. dá para a mulher que quer ser elegante?
Lacroix - Que seja ela mesma, encontre seu estilo e não se deixe levar ingenuamente pelas tendências da moda.
Revista - O sr. conhece a moda brasileira?
Lacroix - Confesso que não conheço nada, mas espero descobrir alguma coisa na curta viagem que farei ao Brasil.

LACROIX NO BRASIL
Desfile: Teatro Faap. R. Alagoas, 903, Pacaembu, zona oeste. Quinta, 22, às 20h15. Só para convidados.
Exposição: "Da inspiração à finalização de uma roupa de alta-costura" e "Coleção de alta-costura primavera-verão 97"
Museu de Arte Brasileira. R. Alagoas, 903, Pacaembu, zona oeste. Tel.: 824-0233. Dias 23, 24, 25, 27 e 28 de maio, 10h/20h. Sáb. e dom., 13h/18h. Grátis.

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