São Paulo, domingo, 18 de maio de 1997
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Uma geral em Minas

LUCIANA PRADO; CACAU GUARNIERI

O trajeto entre Belo Horizonte e Diamantina tem vilas e paisagens imperdíveis
POR LUCIANA PRADO E CACAU GUARNIERI
As cidades que vêm à cabeça quando se pensa em Minas Gerais são Ouro Preto, Belo Horizonte e Diamantina. Mas o trajeto entre a capital do Estado e Diamantina abriga várias outras cidadezinhas pitorescas e imperdíveis.
Na ida, Serro, cidade colonial de grande riqueza arquitetônica, tem casas da época do diamante com sacadas e beirais trabalhados. Um pouco além fica Milho Verde, um pequeno vilarejo que vale a visita pelas diversas cachoeiras que ficam nas proximidades.
Perto de Milho Verde fica São Gonçalo do Rio das Pedras, que parece perdida no tempo: não há ruas, mas gramados. As pessoas andam a cavalo, e as vendinhas parecem ter ficado congeladas desde o século passado. Há também uma bonita igreja: sua fachada, branca, contrasta com as portas e janelas pintadas de rosa e verde.
Pela BR-259, chega-se a Diamantina. Incríveis formações rochosas dão um aspecto lunar à paisagem. Se puder, faça esse trecho ao entardecer: enquanto o sol se põe, o espetáculo de cores é incomparável.
A maioria das casas do centro da cidade, infelizmente, foram transformadas em estabelecimento comercial, e o tráfego de carros pelas pequenas vielas é maior do que se pode esperar.
Não espere encontrar um guia em cada esquina, como em Ouro Preto. Aqui, eles são raros e muito mal informados. É preciso ter boa disposição para andar, as ladeiras são inúmeras.
A casa onde Xica da Silva teria vivido, na segunda metade do século 18, foi restaurada, mas as histórias que são contadas sobre a vida da escrava, que virou rainha, são cheias de contradições.
A personalidade que a cidade realmente cultua é Juscelino Kubitschek. Há uma estátua em sua homenagem erguida estrategicamente diante de uma deslumbrante vista das montanhas.
Não deixe de ver a casa da Glória, o Museu do Diamante e o Mercado Municipal -dizem que seus arcos inspiraram Niemeyer na criação do palácio da Alvorada.
Para visitar as inúmeras igrejas, é necessário participar de um "tour", oferecido pela Casa de Cultura, já que elas permanecem fechadas e só os guias têm a chave.
À noite, a cidade sofre uma metamorfose: vazia, torna-se mais misteriosa e romântica. Ande nos becos, pare em seus bares. Não se surpreenda se escutar ao longe um canto: a cidade é famosa por suas serestas.
A 2 km de Diamantina, fica o "caminho dos escravos": é um pedaço de estrada de pedra construída por escravos no século 18. A obra é impressionante. A 7 km fica a Gruta do Salitre, rocha circular e pontiaguda que forma um palco natural de excelente acústica.
Outro passeio imperdível é Biribiri, uma vila operária erguida ao redor de uma antiga fábrica de tecidos construída em 1876. Quase desabitada, com aparência de cidade fantasma, muda completamente durante a semana do Carnaval, quando turistas alugam as casas para participarem da festa em Diamantina. Na estrada para Biribiri, pare nas cachoeiras dos Cristais e na do Sentinela, ambas muito bonitas e de fácil acesso.
A volta
No caminho de Diamantina para Belo Horizonte, encontra-se Cordisburgo, cidade natal de Guimarães Rosa. A casa onde o escritor passou a infância foi transformada em museu. Há pertences do escritor, como sua máquina de escrever e o diploma da Academia Brasileira de Letras. Estão lá também o fardão e a espada da ABL (Academia Brasileira de Letras), que ele usou apenas uma vez: Guimarães Rosa morreu poucos dias após tomar posse como imortal, em 1967. A casa é ambientada com móveis e objetos da época. O monitor do museu conhece muitas histórias do ilustre morador da casa.
Como a cidade não tem boas opções de hospedagem, uma boa dica é a Pousada Maquiné, às margens da BR-040, no município de Caetanópolis.
A 5 km de Cordisburgo fica a grande atração da região, a gruta de Maquiné. Foram encontrados vários fósseis de animais pré-históricos, infelizmente, mandados para a Europa assim que foram descobertos. Apesar disso, a gruta continua um espetáculo: estalactites (formação rochosa que se forma a partir do teto das cavernas), estalagmites (forma-se a partir do solo da caverna) e elictites (crescem para os lados) formam uma galeria de arte de formações naturais.
Finalmente, quase chegando a Belo Horizonte, faça uma visita à gruta do Rei do Mato, na cidade de Sete Lagoas. Descoberta em 1960, ela tem quatro salões abertos à visitação. No salão das Raridades, elictites e estalagmites formam um conjunto impressionante de 13 m de altura. Formações parecidas, só na Gruta de Altamira, na Espanha.

ACESSO
A estrada até Belo Horizonte é péssima. O melhor a fazer é ir de ônibus (R$ 46, ida e volta, pela Viações Cometa) ou avião (R$ 509,94, ida e volta, pela TAM) até a capital e alugar um carro por lá.

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