São Paulo, sexta-feira, 23 de maio de 1997
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FHC promete demitir possíveis envolvidos

DA SUCURSAL DE BRASÍLIA

O presidente Fernando Henrique Cardoso disse ontem durante discurso na posse de dois novos ministros que, se algum membro do governo estiver envolvido na compra de votos de deputados para aprovação da reeleição, será demitido.
O presidente reafirmou acreditar que ninguém no governo esteja envolvido. "Para mim, isso seria uma grande decepção", afirmou, acrescentando que esse sentimento "não inibiria a minha decisão" de demitir os envolvidos.
O presidente aproveitou para justificar sua decisão de não afastar nenhum suspeito, como o ministro Sérgio Motta (Comunicações).
Motta é citado pelo ex-deputado Ronivon Santiago (sem partido-AC) nas fitas divulgadas pela Folha como o responsável pelo dinheiro usado para comprar votos no Congresso.
"Seria uma covardia imperdoável à minha consciência punir inocentes apenas porque a sanha de adversários insinua ou supõe, sem nem ao menos ter a coragem de dizer: eu acuso!", afirmou.
Segundo o presidente, "o descrédito recairá sobre os verdadeiros culpados de tanto dano à moral republicana, e não sobre o governo".
Essas palavras do presidente foram aplaudidas tanto pelos convidados -cerca de 2.000 pessoas que assistiam à posse de Iris Rezende e Eliseu Padilha- como pelos ministros que o rodeavam.
O presidente pediu explicitamente apoio dos aliados para ajudar a contornar a crise política criada com a denúncia de compra de votos. Nos últimos dias, a amigos, o presidente reclamou de isolamento.
"Para assegurar a estabilidade, o crescimento e a melhora das condições de vida dos brasileiros, precisamos manter a confiança em nós mesmos e no país. É preciso, mais do que nunca, que a maioria que nos apóia, no Congresso e na sociedade, reaja com convicções e com argumentos. Convicções e argumentos não têm faltado ao governo", afirmou.
O presidente disse que a revelação da venda de votos resume-se à "falta de decoro de uns poucos parlamentares". Segundo ele, não serão "questões menores", de interesse pessoal, grupal ou mesmo regional, que "irão paralisar a consciência cívica dos parlamentares que apóiam o governo".
Práticas inaceitáveis
Sem citar a proposta de criação de uma CPI da reeleição, o presidente disse que "as vozes mais estridentes das oposições" estão indo contra a "aceitação da vontade majoritária do país", numa tentativa de paralisar o Congresso e o governo "com suspeitas e insinuações".
FHC aproveitou para elogiar o presidente da Câmara, deputado Michel Temer (PMDB-SP), que estava a seu lado, e a iniciativa dele de constituir uma comissão para investigar as denúncias "para livrar o conjunto daquela Casa da pecha de conivência com práticas inaceitáveis".
O presidente defendeu uma rigorosa investigação. "Qualquer suspeita de corrupção deve ser investigada a fundo (...). Se comprovada, tanto os corruptos como os corruptores devem ser exemplarmente punidos", disse FHC.
Em seguida, o presidente estendeu a proposta, mas sem citar a criação de uma CPI. "Que a polícia, o Ministério Público e a Justiça atuem com a mesma determinação e presteza para a completa apuração dos fatos e a punição dos culpados, corruptos e corruptores", afirmou.

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