São Paulo, sexta-feira, 23 de maio de 1997
Texto Anterior | Próximo Texto | Índice

Morte de militar pode ter sido vingança

RONI LIMA
DA SUCURSAL DO RIO

O capitão-tenente da Marinha Fábio Carrancho, que acompanhou ao Brasil o corpo do cabo fuzileiro naval Aladarque Cândido dos Santos, 28, disse ontem, durante o enterro, que ele pode ter sido morto "por vingança de bandoleiros" de Angola.
Subcomandante da companhia brasileira que integra a força de paz da ONU na cidade angolana de Vila Nova, Carrancho afirmou que no domingo o cabo integrava uma patrulha que impediu um caminhão civil de ser saqueado.
Segundo ele, houve tiroteio, e os assaltantes fugiram -com exceção de um que acabou preso pelo motorista do caminhão. Angolanos teriam então tentado matar o assaltante. Carrancho disse que Santos evitou a morte.
No dia seguinte, o cabo foi atingido mortalmente por três tiros, quando participava de patrulha que dava segurança a um comboio humanitário na mesma região.
Na mesma ação, o cabo do Exército Samuel Sobrinho Correia foi ferido gravemente. "Ele (Santos) pode ter sido alvo de um ataque de vingança", disse Carrancho.
Houve troca de tiros, e os bandoleiros fugiram, segundo ele, sem roubar nada.
O corpo do cabo Santos -promovido postumamente a terceiro-sargento- foi enterrado ontem de manhã, com honras militares, no cemitério Jardim da Saudade, em Edson Passos, distrito de Nova Iguaçu (Baixada Fluminense). Cerca de 500 pessoas estavam presentes -a metade oficiais e praças fardados.
Protestos da família
Segundo Jorge Cândido dos Santos, 39, tio do militar morto, os familiares não se conformam por ele estar em comboio de segurança -ele era enfermeiro. "Se ele foi em missão de paz, por que morreu nessa emboscada? Queremos investigação sobre isso."
O assessor de imprensa do Ministério da Marinha, o capitão-de-corveta Rodrigues Nunes, disse entender a dor da família. Mas, segundo ele, antes de ser enfermeiro, o cabo Santos era "um fuzileiro naval, um combatente".
Segundo Nunes, o cabo poderia, como enfermeiro, estar integrando o comboio para dar "um apoio de saúde" em caso de necessidade.
Na noite de anteontem, no início do velório, o caixão foi parcialmente aberto, na Santa Casa de Misericórdia, centro do Rio. O corpo de Santos estava lacrado em um caixão de zinco.
O tio do cabo fuzileiro naval afirmou que familiares observaram apenas os pés do corpo. "Disseram que nós não iríamos aguentar ver o rosto, porque estava muito deformado", disse o tio.
Além da mulher, Adriana, o cabo Santos deixa duas filhas pequenas, Andressa e Amanda.

Texto Anterior: Tudo sobre a guerra
Próximo Texto: Ferido telefona para a mulher
Índice


Clique aqui para deixar comentários e sugestões para o ombudsman.


Copyright Empresa Folha da Manhã S/A. Todos os direitos reservados. É proibida a reprodução do conteúdo desta página em qualquer meio de comunicação, eletrônico ou impresso, sem autorização escrita da Folhapress.