São Paulo, sexta-feira, 23 de maio de 1997 |
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Balseiros e sacoleiros
ANTONIO CARLOS DE FARIA Rio de Janeiro - Rio e Havana já foram as jóias da latinidade americana. Até os anos 50, essas cidades criavam cenas culturais específicas, que o cinema de Hollywood misturava impiedosamente numa coqueteleira e servia com fundo musical de maracas e bongôs.Quem visitar Cuba hoje e tiver a oportunidade de falar com o povo, não com os burocratas do partido único, comprovará que os elos dessa corrente da latinidade continuam fortes. Os cubanos são apaixonados pelas novelas brasileiras, que ditam a moda até na praia, onde as mulheres mais ousadas adotaram, com atraso, o fio dental. "Paladar" é como eles chamam qualquer restaurante privado, numa lembrança do nome do estabelecimento dirigido por Regina Duarte na novela "Vale Tudo". Com essa ambientação, talvez ninguém se surpreenda com a quantidade de informações que os "habaneros" têm sobre o Rio e a situação dos brasileiros. Mesmo vivendo uma escassez prolongada de gêneros alimentícios e não tendo luxo, os cubanos sabem que a situação poderia ser pior. Poderiam estar vivendo no Brasil. As imagens das crianças brasileiras abandonadas nas ruas são tão emblemáticas no exterior quanto o futebol ou a novela. De cada quatro cubanos existentes no mundo, um está nos EUA, principalmente na Flórida. Daí vem outra proximidade dos cubanos com os brasileiros: o fascínio por Miami. Não faltam pontes a unir Cuba ao Brasil, desde a formação comum, como grandes colônias açucareiras escravocratas. Porém os cubanos se sentem alguns passos adiante. O socialismo não foi um caminho para o paraíso, mas tornou as discussões sobre reforma agrária e distribuição de renda coisas do passado. Afinal, dizem os cubanos com ar maroto, lá todas as terras estão sob controle do Estado, e a pobreza é distribuída de uma forma quase igualitária. Texto Anterior: Os "spin doctors", de novo Próximo Texto: A hora e a vez do teatro Índice |
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