São Paulo, sábado, 24 de maio de 1997
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"Guerra" de preço assusta as indústrias

Lojas disputam clientes

FÁTIMA FERNANDES
DA REPORTAGEM LOCAL

A indústria eletroeletrônica está preocupada com a guerra de promoções travada entre as grandes redes de lojas, que resulta em reduções de preços quase diárias de alguns produtos.
Uma mobilização de fabricantes está tentando brecar a queda nos preços e forçar o varejo a reduzir as promoções. Com os estoques altos, algumas fábricas já decidiram diminuir o ritmo de produção.
Fabricantes ouvidos pela Folha dizem que a política de preços de algumas lojas é suicida. Para eles, esse preço "artificial" não é bom nem para a indústria nem para o comércio, que estão perdendo dinheiro.
A Lojas Cem, com 65 lojas, reduziu, em menos de uma semana, até 18% os preços de alguns produtos.
Na semana passada, por exemplo, uma TV em cores da Gradiente, com controle remoto, custava R$ 436 -para ser paga em quatro vezes, sem juros. Na segunda-feira, o preço caiu para R$ 398, e ontem, para R$ 358. Um microondas de 34 litros da Philco caiu de R$ 310 para R$ 296 e para R$ 264.
Natale Dalla Vecchia, diretor da Cem, conta que alguns produtos chegam a ser vendidos com preços até 10% mais baixos do que os pagos para as indústrias.
"As vendas despencaram. Reduzir preço é a única forma de diminuir o estoque." Afonso A. Hennel, vice-presidente da Semp Toshiba, diz que o esforço do comércio para vender mais por meio da redução de preços tem um limite.
Para ele, os preços dos produtos devem voltar à normalidade -sem o efeito das promoções- dentro de um a dois meses. "Vai acabar a disposição do varejo para perder dinheiro."
Férias e demissões
Outros fabricantes ouvidos pela Folha dizem que as empresas já não estão tão estocadas como o varejo porque vêm reduzindo a produção -em 10%- por meio de férias coletivas e até demissões.
Para eles, o preço "artificial" de um produto -quando mantido por muito tempo- traz prejuízo à cadeia produtiva e de distribuição. Nesse caso, afirmam, vender menos é melhor porque o prejuízo também diminuiria.
O Ponto Frio, com 205 lojas, informa que os preços dos eletrônicos caíram cerca de 15%, em média, nos últimos seis meses.
Mesmo assim, a rede continua com estoque -equivalente a 30 dias de venda- um pouco acima do desejado, de 25 dias.
Albert Arar, diretor, diz que as promoções são fortes para estimular a venda que, nos seus cálculos, caiu 40% depois do Dia das Mães.
"O consumidor está bastante endividado. Isso explica a queda na venda", diz Arar.
A Casas Bahia informa que vai continuar investindo forte em campanhas para atrair o cliente. "Estamos tendo de fazer boas promoções para vender", diz Michael Klein, diretor. A queda nas vendas, segundo ele, é da ordem de 10% sobre igual período de 96.

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