São Paulo, sábado, 24 de maio de 1997
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Cinemas boicotam estréia de "Ed Mort"

DA REPORTAGEM LOCAL

O detetive Ed Mort foi encarregado de uma missão mais complicada do que encontrar o Silva, tarefa que lhe cabe no filme homônimo, dirigido pelo cineasta Alain Fresnot.
Ed Mort tem a missão impossível do personagem criado por Luis Fernando Verissimo de desfazer a confusão que opõe a Feneec (Federação Nacional das Empresas Exibidoras Cinematográficas) à HBO -canal de TV paga exclusivo da TVA.
Em represália à exibição de "Ed Mort" na HBO ontem, às 20h30, mesmo dia do lançamento nacional nos cinemas, a Feneec pediu aos exibidores que boicotassem o filme -que estreou em três capitais: Rio de Janeiro, Belo Horizonte e Curitiba.
"Ed Mort" chega a Porto Alegre e Florianópolis na próxima semana. Em São Paulo, Brasília e Goiânia, o lançamento foi adiado para a primeira quinzena de junho.
No Rio de Janeiro, por exemplo, o filme estreou em quatro cinemas -inicialmente, o longa seria exibido em oito salas.
A diminuição do número de cinemas é consequência direta da decisão da Feneec.
Em fax enviado aos filiados da federação no início da semana, o presidente da entidade, Roberto Darze, sugere aos exibidores que programaram o filme que "revejam sua posição".
"O precedente trará graves consequências futuras para a exibição", afirma Darze no texto.
A Folha tentou falar com Darze, que, segundo sua assessoria, estava em reunião. O presidente da Feneec não retornou a ligação.
Elo mais fraco
O imbróglio estourou essa semana, mas suas origens remontam ao ano passado.
No final de julho, "Ed Mort" ganhou o prêmio HBO de Cinema junto com dois outros filmes, "O Judeu", de Tob Azulay, e "Bocage - O Triunfo do Amor", de Djalma Limongi Batista.
Com o prêmio, Fresnot recebeu dois cheques de R$ 100 mil. Um para ajudar a finalização do filme e o outro para fazer a mídia de lançamento.
Em contrapartida, a HBO teria o direito de exibir o filme uma única vez, antes da chegada do longa ao cinema. Somente após um ano, o canal poderia apresentá-lo novamente.
"Quando ganhei o prêmio, eu não fazia idéia das consequências que ele teria", disse Fresnot à Folha.
O cineasta lamenta o que define como um mal-entendido entre a Feneec e a HBO e se considera o elo mais fraco dessa confusão.
"Como pequeno produtor que sou, estou me sentindo prejudicado por uma questão de definição de janelas e procedimentos, em que, apesar de entender perfeitamente o que está sendo tratado, tenho a desagradável sensação de estar pagando um preço alto demais", afirmou Fresnot em fax enviado a Darze.
Em fax enviado a Roberto Darze, o crítico Rubens Ewald Filho, diretor de produção e programação da HBO, afirma que o canal teria direito a exibir "Ed Mort" em pré-estréia mundial, antes da chegada do filme aos cinemas.
Mas que, atendendo a um pedido de Fresnot, a HBO marcou a exibição para o dia do lançamento nacional.
"Será que não estão superestimando o poder de uma TV por assinatura? Quantas pessoas irão assistir uma fita que concorre com a novela?", pergunta Ewald Filho.
Ele lembra que já há um precedente que não causou problemas. Segundo ele, um dos ganhadores do prêmio HBO de Cinema, "O Judeu", foi exibido na HBO na mesma época em que estava nas telas de cinema. Sem nenhuma reclamação, pressão ou boicote dos exibidores.

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