São Paulo, sábado, 24 de maio de 1997
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Clássicos voltam enciclopédicos

BIA ABRAMO
ESPECIAL PARA A FOLHA

As reedições de clássicos de Julio Verne, Jack London, Rudyard Kipling e Robert Louis Stevenson que a Melhoramentos está lançando ganharam uma roupagem próxima ao do conceito do CD-ROM.
Cada página, além de ilustrações, traz notas explicativas, reproduções de objetos e documentos de época, além de páginas inteiras com mapas e diagramas. Além da aventura, cada um desses livros vira uma minienciclopédia dos assuntos relacionados com a trama. Assim, "A Ilha do Tesouro" reúne informações sobre piratas e a ciência da navegação do século 18. "O Livro da Selva" mostra animais e seus hábitos, mapas e fotos da Índia colonial. "O Chamado Selvagem" conta a história da corrida do ouro no Alasca e das duras condições da ocupação do extremo dos Estados Unidos. "A Volta ao Mundo em 80 Dias" fornece um panorama da geografia, dos costumes de países diversos e da tecnologia dos transportes no fim do século 19.
A idéia, da editora francesa Gallimard, parece partir de duas constatações óbvias: a leitura perdeu muito apelo para os meio visuais, sobretudo entre os leitores mais jovens, e a necessidade de aproximar esse mesmo leitor de universos que devem parecer-lhes muito distantes. Afinal, como resgatar a emoção de uma história sobre uma volta ao mundo em 80 dias na era do avião supersônico?
Esse mergulho em lugares e tempos que hoje devem soar antiquados, quase ridículos, é, para além dos textos, realizado por meio de comentários de especialistas e uma pesquisa iconográfica cuidadosa. Resta saber se esse conjunto de estratégias pode ser, de fato, a chave para despertar a capacidade de transportar-se para mundos onde não existem McDonalds, televisão e "Guerra nas Estrelas".
Para o leitor que já conhece as obras de cor, a estratégia funciona às avessas: as notas chamam à realidade, relativizam o embalo da aventura. Se retira parte do encanto das primeiras leituras, por outro lado reforça sua importância como testemunho histórico.
A coleção "Obras-Primas Universais" destaca-se em dois quesitos: preço e qualidade gráfica. Os livros impressos na Itália, em papel cuchê, com ilustrações coloridas, conseguiram manter um preço dentro do razoável: os mais caros custam R$ 29. Até o fim do ano, serão lançados "Tom Sawyer", de Mark Twain, e "Mulherzinhas", de Mary Louise Alcott.
O porém é que a tradução foi feita da edição francesa. Problema nenhum no caso de Verne. Os demais chegam ao leitor brasileiro de segunda mão. O que é pena.

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