São Paulo, sábado, 24 de maio de 1997 |
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Verne choca geografia e tecnologia
BIA ABRAMO
Além disso, Verne também foi um hábil criador de caricaturas, típicas desse mesmo mundo novo. Ao lado do Professor Lindenbrook (o cientista explorador de "Viagem ao Centro da Terra") e do Capitão Nemo ("20.000 Léguas Submarinas"), os protagonistas de "A Volta ao Mundo em 80 Dias", Phileas Fogg (onde raios foi Verne arrumar esse nome?) e seu criado Passepartout -algo como "pau para toda obra", em francês-, estão entre seus melhores. Fogg, o protótipo do inglês excêntrico, reservado e ultrametódico, não hesita em arriscar sua fortuna em uma aposta. Para ganhar as 20 mil libras, ele deve viajar ao redor do mundo em exatos 80 dias. Por que um inglês de hábitos regulares como os de um relógio empenha sua palavra e seu dinheiro em uma aposta? Simples: é que Fogg tinha certeza na ordenação britânica do tempo e do espaço. À época da aventura (1872), a Inglaterra dominava boa parte da superfície do planeta. Não por acaso, Phileas Fogg e Passepartout dão a volta ao globo percorrendo exclusivamente possessões ou ex-possessões inglesas. Talvez a ironia francesa (a França havia perdido a corrida colonialista para a Inglaterra há muito) esteja na piada final: Fogg ganha a aposta por conta de um erro pueril de cálculo. "A Volta ao Mundo em 80 Dias" foi comentado por um astrônomo do Observatório de Paris, Jean-Pierre Verdet, e inclui nas notas diversos brinquedos, estampas de barras de chocolate e livros inspirados na aventura escrita por Verne. As ilustrações são do artista Jame's Prunier. (BA) Texto Anterior: London torna doméstico selvagem Próximo Texto: Claudia Roquette-Pinto supera o passado em "Zona de Sombra" Índice |
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