São Paulo, sábado, 24 de maio de 1997
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London torna doméstico selvagem

BIA ABRAMO
ESPECIAL PARA A FOLHA

A figura do escritor-aventureiro, que floresceu no século passado e início deste, teve em Jack London (1876-1916) um de seus principais representantes. Suas narrativas nas imensidões inóspitas e brancas do Alasca e na solidão ensolarada dos mares do Sul são inspiradas nas suas vivências reais como marinheiro e garimpeiro.
"Chamado Selvagem" acontece no primeiro cenário: a corrida do ouro do final do século 19 no Klondike. Buck, um cachorro urbano mimado, é vendido para um negociante de animais e torna-se um cão puxador de trenó, principal meio de transporte das planícies geladas. A sobrevivência do cão na nova realidade do trabalho e do inverno e sua integração a uma matilha de lobos, ou seja, à vida selvagem, emolduram a crônica de um dos muitos movimentos de expansão do território norte-americano.
Com a história de Buck, London, vagamente influenciado por conceitos da psicanálise e da psicologia junguiana, quer demonstrar a existência de uma natureza selvagem e amoral, adormecida sob a frágil casca de civilização (ou de domesticação, no caso dos cães) e pronta para irromper em condições adversas.
É essa natureza que ele deve ter testemunhado emergir nas suas andanças pelo Alasca: diante do escuro, da fome e do frio, humanos e cães se igualam.
Apesar disso, London tinha fé na natureza humana, mesmo que vista por meio de personagens animais. Um pouco mais tarde, em "Caninos Brancos", London faz o caminho inverso: conta a história de um lobo que "civiliza-se", por amor a um homem. É que London era um humanista (não à toa, para além de seu envolvimento com o socialismo, era cultuado pela esquerda).
Entre os documentos de época de "O Chamado Selvagem" há várias fotos do autor, de garimpeiros e mapas. Já as ilustrações, mais realistas, são as menos interessantes da coleção.
(BA)

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