São Paulo, domingo, 25 de maio de 1997
Texto Anterior | Próximo Texto | Índice

Nanorado esconde identidade secreta

PAULO SAMPAIO
DA REPORTAGEM LOCAL

Você sabe quem é seu namorado? Claro? Muitas mulheres não têm a menor idéia -algumas passam anos mantendo relacionamentos com homens que somem de vez em quando e nunca deixam claro o que fazem para viver.
"Namorei sete anos um sujeito que se dizia milionário, mas era falido", conta a pedagoga Márcia Cavalcanti, 40. "Só fui descobrir depois de muito tempo."
O namoro começou bem. "Ele era solteiro e eu o conheci em uma reunião de religiosos: muito familiar, como eu queria."
Márcia estava saindo de um casamento de 16 anos com um homem mais jovem, pai de seus dois filhos. "Me casei aos 16 anos, ele tinha 15, e sempre levei a casa nas costas", conta. "A gente se dava muito bem na cama, por isso durou tanto tempo", explica.
Quando quis acabar o casamento, Márcia pensou em mudar de vida. "O tal religioso era 22 anos mais velho, supostamente rico e trabalhador", conta.
"Ele acabou com minhas últimas ilusões a respeito de relacionamentos." (leia depoimento)
Administrador autônomo
O ex-namorado da bancária Ana Maria Paiva, 30, nunca mentiu que era milionário. "O problema dele não era o dinheiro, era a profissão", explica Ana Maria.
Apesar de ter cursado administração de empresas, ele "estava" motorista de táxi. "E eu só fui saber oito meses depois", conta.
Ana Maria o conheceu no banco onde trabalha. "Ele tinha conta lá, e eu, na época, era caixa", diz.
Ela conta que não entende por que ele mentiu. "O cara era um gato, todo mundo o queria, inclusive eu, do jeito que fosse."
O rapaz tinha um telefone celular e se dizia autônomo. "Achava estranho um administrador de empresas autônomo, mas ele explicou que ficava com a parte de visitas aos clientes."
Ana Maria conta que descobriu a mentira "bestamente". "Estava esperando o sinal para atravessar a avenida Paulista, quando ele passou dirigindo o táxi", lembra.
Ela diz que não acreditou no que viu. "Achei que fosse alguém muito parecido, mas a curiosidade não me deixou ficar na dúvida. Peguei outro táxi e pedi que o seguisse."
Dois sinais depois, os carros emparelharam e Ana Maria perguntou a ele: "Moço, moço, em que ponto o senhor trabalha?"
Ele tentou se explicar, e ela até quis ouvir, mas não conseguiu. "Não fiquei chateada com a descoberta, e sim com a mentira."
Nem casado, nem gay
Não houve mentira no caso da secretária Rosa Maria Rodrigues, 32. Apenas o homem que ela considera o amor de sua vida costumava sumir de vez em quando e um dia sumiu para sempre.
"Desde novembro ele não aparece", conta. "A última vez que ligou foi no meu aniversário, perguntando o que eu queria de presente. Meu Deus, como já eu sofri por causa desse homem."
Rosa Maria conta que nunca desconfiou do que o namorado dizia. "Ele falava que era policial rodoviário e era mesmo", acredita.
"Eu sei porque, um dia, depois que a gente transou, vasculhei a carteira dele e vi a credencial."
E se ele fosse casado? "Não era", diz. "Mandei fazer um levantamento em Votuporanga (SP), onde mora a família dele."
E se fosse gay? "A gente demorou sete meses para ir para a cama, mas essa dúvida eu não tenho."
Será que então ele morreu? "Não", diz. "Pelo menos em Votuporanga todos dizem que não. Mas ninguém sabe mais nada."

Texto Anterior: Médicos deveriam prevenir câncer de pele; Abertas as inscrições para prêmios da APM; Instruções na alta não são bem entendidas; Vírus pode causar a doença de Parkinson; Congresso terá curso de aplicação de laser; Portador de linfedema terá encontro em SP; Lente de contato é tema de simpósio
Próximo Texto: DEPOIMENTO
Índice


Clique aqui para deixar comentários e sugestões para o ombudsman.


Copyright Empresa Folha da Manhã S/A. Todos os direitos reservados. É proibida a reprodução do conteúdo desta página em qualquer meio de comunicação, eletrônico ou impresso, sem autorização escrita da Folhapress.