São Paulo, domingo, 25 de maio de 1997
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Dize-me onde moras e te direi quanto gastas

JOSÉ ROBERTO DE TOLEDO
DA REPORTAGEM LOCAL

O preço de "morar bem" em São Paulo não se resume apenas a pagar um aluguel caro. O status de consumir no badalado circuito dos Jardins pode custar até 31,5% mais para o frequentador dessa região da cidade.
É o que indica levantamento feito pela Folha com base na pesquisa de preços feita pela Sunab (Superintendência Nacional de Abastecimento e Preços). A cotação foi realizada na primeira quinzena de maio.
Com localização central, ampla gama de serviços e comércio sofisticado, os chamados bairros nobres paulistanos cobram mais caro por quase tudo o que oferecem, da dúzia de laranjas ao corte de cabelo. É o "custo Jardins".
A seu favor, os empresários do Jardim Paulista e dos bairros de classe média e classe média-alta ao redor podem alegar que pagam mais caro pelo ponto de seus negócios e empregam mão-de-obra qualificada, com salários maiores.
A excelência dos serviços e produtos pode até falhar, mas certamente será cobrada. Vale a lei da oferta e procura: em locais onde a renda per capita é maior, os comerciantes arriscam cobrar preços mais altos e encontram mercado.
Isso só não ocorre em estabelecimentos onde os produtos à venda são mais massificados. Nas farmácias, por exemplo, não houve variação de preços entre as regiões, segundo levantamento da Folha.
Por outro lado, quanto mais personalizado aquilo que está à venda, maior a diferença de preço em relação ao produto ou serviço semelhante encontrado em bairros periféricos.
Assim, um corte de cabelo em Pinheiros custa 140% mais do que um corte de cabelo no Jabaquara. A conta pelos mesmos dois quilos de carne (filé e alcatra) será 81% maior no shopping Iguatemi do que na Freguesia do Ó.
Roteiros virtuais
Desde março, a Sunab tem um pouco visitado "site" na Internet (www.sunab.fazenda.gov.br), onde disponibiliza preços de centenas de produtos e serviços pesquisados em estabelecimentos de todas as capitais brasileiras.
Qualquer pessoa com acesso à rede pode procurar lá os locais com as melhores ofertas em seu bairro ou cidade. Além de preço, o serviço fornece o endereço dos estabelecimentos.
A reportagem traçou um roteiro em que dois personagens virtuais percorrem dois trajetos simultâneos: um no "circuito Jardins" (que vai de Higienópolis ao Morumbi), outro no "off-Jardins" (no caso, Jaçanã, Caxingui, Jabaquara, Tatuapé, Freguesia do Ó e Aricanduva). Ambos consomem as mesmas coisas e usufruem dos mesmos serviços.
No fim do dia, depois de ter ido à feira e ao supermercado, ter almoçado num restaurante por quilo e ter bebido umas cervejas com os amigos, o personagem que percorreu os Jardins gastou R$ 146,18.
Após ter feito as mesmas coisas, seu colega "da periferia" terminou o dia com R$ 34,42 a mais no bolso.
Levado para a vida real, esse crédito aumenta ainda mais se forem consideradas outras variáveis não pesquisadas pela Sunab, mas que pesam no orçamento da maioria das famílias.
O aluguel de um apartamento de três quartos no Jardim Paulista, por exemplo, custa, em média, R$ 1.587,00 -segundo levantamento do Datafolha. No Jabaquara, custa menos da metade: R$ 700,00.
No caso de duas famílias com a mesma renda, a que mora e frequenta os bairros menos badalados teria uma "sobra" de 30% a 40% maior no fim do mês do que a moradora do circuito dos Jardins.

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